Uma humilhação pública e outras estóriasda semana ideológica


O chumbo de três dos quatro candidatos aos órgãs sociais da ANACOM achincalham os visados e eram perfeitamente evitáveis. Não havia necessidade


Esta semana, o Parlamento teve muito para fazer conforme exaustivamente foi noticiado. Mas como “depressa e bem há pouco quem” duvido que tenham sido eficazes.

Começo por aquilo que me chocou mais. Sinceramente fiquei estupefacto com os chumbos do Parlamento a 3 dos 4 candidatos a membros dos órgãos sociais da Anacom. Há coisas que achincalham os visados e são perfeitamente evitáveis. Falta de experiência anterior ou ligações a um dos operadores podendo questionar isenção dos visados eram fatores conhecidos bem antes da sujeição a exame parlamentar. Se assim era, para quê a humilhação pública? A política cada vez me confunde mais e se os argumentos aludidos justificam perfeitamente o chumbo, só me resta um comentário: “não havia necessidade”!

Continuando sobre o Parlamento refiro que prolongar noite dentro os trabalhos, revela, no mínimo, falta de planeamento e método. Considero serem estas noitadas o exemplo mais flagrante do que tantas vezes refiro: a maioria dos nossos deputados estão impreparados para estas funções, revelando serem de uma ineficiência gritante. Não houve tempo durante o ano para planearem? Ou se os assuntos são urgentes e imprevistos, por que não adiar o início das férias como acontece em tantas empresas privadas? Mas não! Noitadas como estas são confrangedoras e propícias de dar asneira. Exemplo? As florestas, com ideologia a predominar nas votações a serem feitas quase de manhã. Ouço os especialistas e parece que daqui por uns anos os efeitos das restrições de plantação aos eucaliptos terão os efeitos contrários aos previstos porque dos cortes atuais da madeira queimada o mais certo é voltar a crescer (só quem nunca estudou esta matéria pode pensar o contrário) e as novas que forem autorizadas aumentam a área plantada. Aguardemos uns tempos.

No entanto, este parlamento ainda teve tempo, aliás, para ter momentos bem surreais, reveladores da predominância de ideologia como aconteceu no caso do Bloco e PCP ao não aprovarem o voto de pesar pelo falecimento de Américo Amorim, empresário que acumulando riqueza muito contribuiu para o desenvolvimento da economia nacional, criando milhares de postos de trabalho com a sua visão e perseverança. Cegueira? Dor de cotovelo? Ou o pragmatismo esquerdista ortodoxo? Seja o que for, medíocre foi de certeza.

Outras estórias da semana ideológica no parlamento aconteceram como o pedido de Jerónimo para a reversão da privatização da PT sabendo ser completamente inviável, a não ser que se queira copiar a Venezuela (não esquecer que PCP este presente na manifestação a favor de Maduro com João Oliveira). Mas vendo Arménio Carlos na primeira linha da luta dos trabalhadores da PT contra a Altice, seguindo o ataque frontal há dias de António Costa a Altice, percebe-se que a luta será feroz até porque a TVI, com ou sem restrições dos reguladores, vai certamente entrar no grupo francês bem determinado em investir a sério em Portugal.

Mudemos de tema. André Ventura e Gentil Martins ousaram dizer o que pensam. Se houvesse a Inquisição já estariam a arder por ousar contrariar o politicamente correto. Seja por razões eleitoralistas como André Ventura, seja por pensamento estruturado como Gentil Martins, a liberdade de expressão voltou à baila. Insultos gratuitos e de muito baixo nível misturaram-se com críticas acérrimas que fazem lembrar uma censura de má memória. Não se verifica sequer se André Ventura se limita a utilizar uma realidade num concelho vermelho, há muito governado pelo PCP, com o fito de agitar o “status quo” como forma de vincar alternativa a Bernardino Soares. Epítetos de racista ou fascista perpassam uma esquerda acirrando ânimos mas acabando por, na prática, o meter no mapa de Loures. Ou seja, Ventura e o PSD conseguiram o pretendido, quiçá por vias ínvias, mas passaram a contar no concelho.

Quanto a Gentil Martins, é um Senhor e sempre o foi toda a vida. Expressou uma opinião científica sobre um tema sensível como o da homosexualidade considerando o mesmo como “anomalia”. Não posso de forma alguma pronunciar-me sobre o que referiu, mas de algo tenho a certeza: de forma alguma o considero homofóbico porque lhe reconheço elevada inteligência. Mas a liberdade de expressão conquistada pela liberdade do 25/4 encontra-se objetivamente cerceada em alguns temas sensíveis da Sociedade. Por mim, anomalia ou não, a homosexualidade é uma realidade secular e não devemos ter preconceitos.

 

P.S. Divertido ver que 2 deputados do PS faltaram à votação do relatório da Comissão de Inquérito sobre a CGD. Uma organização parlamentar que indiscutivelmente pode dar confiança a quem votou PS e nestes deputados. “Acontece”, disse Carlos Cesar! Não pode, digo eu!

 

Escreve à segunda-feira