O paralelo soa estranho. Jesus tem fama de ser um treinador imaginativo, que arrisca, adepto de um futebol de ataque, vertiginoso mesmo, enquanto Fernando Santos é o oposto: um treinador calculista, que detesta o risco, que gosta de jogar pelo seguro e sacrifica as exibições aos resultados.
Aliás, foi por esta falta de ousadia que várias vezes critiquei Fernando Santos. E foi pelo gosto de arriscar que me tornei fã de Jesus.
Sucede que, à medida que o tempo passa, Jorge Jesus vai-se tornando mais parecido com Fernando Santos. Não quer correr riscos, aposta mais nos jogadores que seguram a bola do que nos que rompem e jogam para a frente.
Isto é particularmente visível no facto de, nesta pré-temporada, ter preferido quase sempre Alan Ruiz a Daniel Podence. Ora, Podence é um dos melhores jogadores portugueses da atualidade. Conduz a bola como Messi, colada aos pés, de cabeça levantada, faz passes de morte, remata. Espero que o jogo de sábado contra o Mónaco, em que Podence jogou de início, não tenha sido uma exceção.
Eu percebo jesus: ele tem a ânsia de ser campeão. Por duas razões: pelo Sporting, que persegue sofregamente o título há muito tempo, e por ele próprio, que não quer perder anos ‘inutilmente’ nesta fase final da carreira. Jesus tem de conquistar mais títulos e tem pressa de os ganhar. Por isso, prefere os valores seguros aos jovens. Prefere jogadores que lhe dão garantias como Mathieu, Coates, Fábio Coentrão ou Bruno César, a futebolistas mais talentosos mas verdes como Jonathan, Palhinha, Iuri Medeiros, Matheus Pereira, Mateus Oliveira ou mesmo Podence. Acontece que, como a época passada provou, nem sempre os valores seguros são… seguros. Para já, Mathieu, Fábio Coentrão e Doumbia pouco mostraram.
Se não fosse essa urgência de ganhar – que, diga-se, também é partilhada pelo presidente – o Sporting teria mais vantagem em apostar na juventude do que na velha guarda. Até porque jogadores como Mathieu, que vêm de grandes clubes, interpretam a vinda para Portugal como uma passagem de cavalo para burro – e isso é desmotivador. Enquanto os jovens lutam para se impor, correm, esfarrapam-se, os que vêm de clubes mais importantes encaram esta etapa como uma espécie de reforma e não estão para se cansar muito.
Com o problema suplementar de se desvalorizarem – ao contrário dos outros, que se valorizam e podem amanhã ser vendidos a bom preço. Se jogarem…
E este é outro malefício da aposta em jogadores feitos. Eles tiram lugar aos novos, não lhes dando oportunidade para crescer e desenvolver todo o seu potencial. O Sporting tem algumas pérolas no seu plantel que vão ser de novo emprestadas ou então passam a época a ver os jogos do banco ou da bancada. E isso é altamente frustrante.