Em política, vale tudo. Já houve tempos em que se dizia que valia quase tudo, mas hoje, sem qualquer margem de dúvida, podemos afirmar que vale tudo.
E vale tudo em todo o lado. Valeu, por exemplo, na eleição de Trump ou nos resultados expressivos de Le Pen e, porque não, ao que parece poderá valer aqui no nosso Portugal.
A estratégia é clara e assenta no populismo, no oportunismo político e na mensagem dirigida. Senão, vejamos. Trump atirou nas direções certas: o muro para travar a emigração clandestina, a reindustrialização da América e o ataque à China para trazer de volta os postos de trabalho das fábricas deslocalizadas, e o discurso xenófobo anti-islâmico para acomodar o medo do terrorismo. Le Pen afinou o discurso contra a imigração como sendo a causa do desemprego e da crise e principal foco do terrorismo. Não o fizeram ao acaso. Foi intencional e dirigido aos problemas reais das pessoas, mesmo que as causas desses problemas não sejam (e não são) os factos que apresentaram.
Em Loures, não será diferente. Na minha modesta opinião, é uma estratégia orientada para o mesmo fim: captar os votos dos inseguros e dos revoltados.
Por isso, não entendo bem o espanto em relação às afirmações do candidato Ventura. Para mim é claro: ou André Ventura ou alguém da sua equipa estudou o caso e elaborou a estratégia e, tal como nos EUA ou em França, assentou–a num discurso negativista mas que passa melhor, que se alicerça no medo e no desconforto dos eleitores e, por último, marginaliza uma minoria.
Existe claramente um problema racial e étnico em Loures, não o reconhecer é tentar tapar o sol com a peneira. Basta recuar uns anos, pesquisar na internet e são às dezenas as notícias relacionadas com violência e, por norma, envolvendo a etnia cigana. Pelo menos desde 2008 que vários jornais fizeram manchetes com incidentes étnicos no concelho de Loures. O pináculo aconteceu em 2011, quando as imagens de vídeos amadores correram mundo com um tiroteio sem precedentes nas ruas do Bairro da Quinta da Fonte, em plena luz do dia, envolvendo membros de etnia africana e cigana.
O candidato André Ventura limitou-se a aproveitar este problema para cativar eleitorado. É uma estratégia como outra qualquer. Tem o mérito de tocar na ferida, mas é absurda a argumentação que usa. Absurda, mas lógica. Ventura ataca a minoria étnica de Loures e a que menos expressão eleitoral tem, usando-a para se valorizar nas que, porventura, se oponham a esta. Taticamente, compreendo; moralmente, acho um desastre e totalmente condenável.
Repito, tocar no assunto é meritório, mas o argumento deveria ser outro. Deveria estar preocupado com a inclusão dessa minoria, e não com a acusação de serem parasitas (que é o que lhes chama por outras palavras), ou em desfazer a balcanização do concelho, ou em apresentar programas de inclusão e de integração e, acima de tudo, deveria ter noção dos princípios mais básicos de um democrata: a tolerância. Apelidar a etnia cigana de “anormal” demonstra uma profunda intolerância e dá sinais de xenofobia e radicalização.
Mais uma vez, acredito que o candidato Ventura não o seja (um xenófobo e um radical) e que tudo não passou de uma estratégia política eleitoral. Mas, ainda assim, a melhor resposta que pode ter da população de Loures é uma estrondosa derrota. É porque, mesmo que por este mundo fora valha tudo em política, cabe-nos a nós, eleitores, dizer não ao populismo e à demagogia e travar esta onda de estratégias.
Escreve à quinta-feira