Concurso. Licenciaturas com mais desemprego não cortam vagas

Concurso. Licenciaturas com mais desemprego não cortam vagas


Entre as 20 licenciaturas com o desemprego mais alto, apenas cinco reduziram o número de vagas este ano. No entanto, o corte não ultrapassa os quatro lugares disponíveis Número de licenciaturas com média abaixo de 10 valores tem, apesar de tímida, uma subida face ao ano passado


As licenciaturas e mestrados integrados que registam as taxas de desemprego mais altas no país não reduziram o número de lugares disponíveis no concurso nacional de acesso ao superior deste ano. Ou seja, continuarão a formar o mesmo número de alunos, sendo que há casos em que um terço não conseguem encontrar emprego.

O ajuste de vagas dos cursos com as taxas mais altas de desemprego tem sido uma das orientações dadas pela tutela às universidades e politécnicos públicos nos últimos anos, instrução que remonta à anterior legislatura. Mas, entre os 20 cursos com as taxas de desemprego mais elevadas, a maioria (14) mantém o número de vagas que tinham disponibilizado no ano passado. Cinco reduziram o número de lugares disponíveis. No entanto, esta redução do número de vagas não tem expressão, tendo em conta que o maior corte no número de vagas não ultrapassou os quatro lugares. É o caso do curso de Engenharia do Ambiente da Universidade de Coimbra que abriu 35 vagas este ano, tendo disponibilizado no concurso do ano passado 39 lugares. Houve um curso que aumentou vagas, mas isto resultou do processo de fusão com outra licenciatura da área.

Após a divulgação das listas de vagas pela Direção Geral de Ensino Superior (DGES), o i cruzou a informação com os indicadores de empregabilidade dos diferentes cursos, análise da qual resultaram estas conclusões. Nesta contabilização, foram apenas abrangidos os cursos que nos últimos dois anos letivos contaram com, pelo menos, 30 alunos a concluir a licenciatura.

Entre as licenciaturas e mestrados integrados nesta situação, a maioria está a funcionar em institutos politécnicos, sobretudo das regiões do interior do país (ver tabela). Para aferir o nível de empregabilidade dos cursos, foi utilizado nesta análise o indicador definido pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, que tem em conta o número de diplomados em cada curso e o número de inscrições nos centros de emprego.

Os últimos dados disponíveis para este indicador oficial dizem respeito aos estudantes que terminaram as licenciaturas entre os anos letivos de 2012-2013 e 2014-2015, e que a 31 de dezembro de 2016, ainda não tinham encontrado emprego e estavam, à data, registados no IEFP.

o que diz o despacho de vagas

Todos os anos o ministro do Ensino Superior envia um conjunto de regras, em forma de despacho não vinculativo, para orientar as universidades e politécnicos a distribuírem as vagas que ficarão disponíveis no concurso de acesso ao superior.

Neste despacho anual, o governo refere que estão impedidas de aumentar o número de vagas todas as licenciaturas que tenham, cumulativamente, uma taxa de desemprego superior à registada a nível nacional e à média geral de cada instituição de ensino superior.

No entanto os reitores ouvidos pelo i consideram que a regra não é suficientemente “eficaz” para levar as universidades e politécnicos a reduzirem os lugares dos cursos com mais desemprego. Isto porque o despacho não permite às instituições transferirem os lugares destes curso para outras licenciaturas com uma taxa de desemprego mais baixa.

Desta forma, as instituições optam por não reduzir o número de vagas destes cursos, não havendo, na realidade, um ajuste da formação superior ao mercado de trabalho.

desemprego acima da média

Metade das licenciaturas e mestrados integrados das universidades e politécnicos públicos têm uma taxa de desemprego acima da média nacional, que este ano foi fixada em 7,2%, com base no IEFP. Em causa estão 517 cursos (48%) entre um total de 1.063 licenciaturas a funcionar em Portugal em instituições públicas.

Este é outro dos resultados do levantamento realizado pelo i, com base em dados divulgados pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), que revelam que é entre os politécnicos que há mais cursos que ultrapassam a taxa de desemprego nacional. Entre os 15 politécnicos, há 281 cursos cujo nível de desemprego fica acima dos 7,2%. Os restantes 236 estão a funcionar em universidades.

No reverso, as tabelas da DGES revelam que há 33 cursos, com pelo menos 20 diplomados, que não têm qualquer aluno inscrito no IEFP. Ou seja, o governo entende que têm uma taxa de empregabilidade total.

Sem surpresa, os cursos da saúde, como Medicina e alguns de Enfermagem, são os que garantem mais emprego.