A IoT passa por sistemas de comunicações que ligam dispositivos entre si e a computadores, que processam e armazenam os dados, permitindo aumentar a qualidade das nossas vidas, nomeadamente no que diz respeito a aumentar o conforto e diminuir o tempo gasto em tarefas desinteressantes. Não só passamos a ter acesso a sensores com a mais variada informação como também passamos a poder atuar sobre os dispositivos, tudo remotamente; além disso, estes dispositivos podem ser integrados numa rede inteligente e programados para atuar em condições definidas por nós. Assim, sem a nossa intervenção, os ambientes onde nos deslocamos passam a reagir de modo autónomo na nossa ausência, ou com a nossa presença. A utilização deste conceito em ambientes urbanos, mais concretamente em edifícios, é claramente uma das grandes apostas da indústria nos dias de hoje, abrindo as portas aos edifícios inteligentes (um termo novo para algo apresentado há muito tempo como “domótica”).
Quando falamos em edifícios, temos de separar a enorme diversidade que existe, com aplicações, serviços, requisitos e utilizações diferentes. Numa perspetiva mais pessoal temos os edifícios residenciais, mas quando se pensa em todos os outros tipos, a diversidade é grande: escritórios, fábricas, hospitais, escolas, centros comerciais, hotéis e aeroportos são apenas alguns exemplos. Se há serviços que poderão ser considerados transversais a qualquer tipo de edifício como, por exemplo, a climatização, existem outros que são claramente específicos de alguns, que é o caso da localização de pessoas.
Tem-se assim vários intervenientes neste sistema global de comunicações que têm todos de comunicar ente si: pessoas, equipamentos tradicionalmente ligados a uma rede (p. e., computador e televisão), dispositivos tradicionalmente autónomos (p. e., frigorífico e máquinas de lavar roupa ou loiça) e objetos (p. e., janelas e mesas). Os exemplos de interação entre tudo isto são inúmeros, muitos deles bem conhecidos. Isto implica que os edifícios a construir tenham de ser pensados para possibilitar todos estes serviços e aplicações. É banal, hoje em dia, que um edifício tenha condutas para telecomunicações para além dos cabos de energia elétrica, mas ainda não existe um local para instalar o “computador controlador da habitação” ou locais predefinidos para colocar os pontos de acesso de wifi.
É claro que, num futuro não muito distante, a construção de edifícios requererá uma maior interdisciplinaridade, juntando competências adicionais à arquitetura e engenharias que poderão não ser óbvias atualmente: psicólogos para abordar as questões de interação das pessoas com os ambientes; médicos para lidar com o dimensionamento de áreas de bem-
-estar; arquitetos de interiores, especialistas em “sintonizar” a habitação com as particularidades das pessoas, entre outros exemplos.
No entanto, existe uma barreira razoável ao desenvolvimento de edifícios inteligentes que está associada à duração dos ciclos de desenvolvimento dos diferentes setores económicos. Por exemplo, uma pessoa ou empresa muda muito mais facilmente de carro do que de casa ou de sede, não só pela diferença em toda logística que lhe está associada, mas também e essencialmente pela diferença de custos envolvidos. Significa isto que a penetração dos edifícios inteligentes demorará muto mais tempo que a dos “carros inteligentes” (para não falar dos “telefones inteligentes”, que mudamos a cada par de anos). De qualquer modo, não deverá haver dúvidas de que o aumento de inteligência em edifícios faz parte de um futuro que já começou. Reserve já a sua próxima casa!
Professor de Comunicações Móveis, Instituto Superior Técnico