A obsessão pelo sucessor de Pedro Passos Coelho


A criação de teses e teorias em torno do sucessor de PPC tem já ocupado páginas e páginas nos media, com frequência sem citar fontes, avançando vários nomes: Luís Montenegro, Rui Rio, Morais Sarmento, Miguel Relvas


Há já algum tempo que a comunicação social vem especulando sobre a identidade do próximo líder do PSD. No final do ano passado, os jornais asseveravam que “críticos” de Pedro Passos Coelhos (PPC) já tinham assinaturas para um congresso. A criação de teses e teorias em torno do sucessor de PPC tem já ocupado páginas e páginas nos media, com frequência sem citar fontes, avançando vários nomes: Luís Montenegro, Rui Rio, Morais Sarmento, Miguel Relvas.

O “Expresso”, por exemplo, em finais do ano passado, explicava que o preferido do Presidente da República seria Montenegro. Em abril deste ano ficámos a saber que Miguel Relvas estaria na iminência de “desafiar” o líder do PSD com primárias. Este fim de semana, mais uma vez, o nome de Montenegro surge no semanário “Expresso” numa entrevista de uma página onde, expressamente, o hipotético candidato garante o seu convicto apoio a Passos, “por entender que é o mais bem posicionado para ganhar pela terceira vez as legislativas e o mais bem preparado para ser PM”. Esta forma clara e definitiva de manifestar o apoio a PPC não satisfaz o jornalista que, logo de seguida, revelando uma invejável capacidade premonitória, escreve a seguinte frase: “Líder parlamentar passa o cargo ao braço-direito e posiciona-se para o pós-Passos”.

Não sendo eu militante do PSD, ouço e leio a opinião daqueles que, à direita, confessam a desilusão com PPC ora por não ter estado à altura de reformas indispensáveis para o país e por ter aumentado os impostos, ora por ser demasiado cinzentão, pessimista, pouco carismático e sem uma estratégia de comunicação que galvanize as massas; para fazer uma verdadeira e eficaz oposição à geringonça, esperavam que Passos se “reinventasse”, como escreveu Fátima Bonifácio num texto, no início do ano passado. Mas as críticas ou opiniões sobre a atuação política de PPC e do anterior governo não se comparam com esta procura obsessiva, direcionada apenas à liderança do PSD, de um substituto para o “passismo” que os nossos media denotam, buscando alternativas ao candidato que, em bom rigor, venceu as últimas eleições.

Se PPC tivesse por hábito desrespeitar a comunicação social, por exemplo enviando sms intimidatórios a jornalistas como fez o nosso PM em tempos, ou se o PSD tivesse nos seus “quadros” antigos ministros que pedem, nas redes sociais, a demissão de jornalistas cujas palavras lhes causam transtornos, como Gabriela Canavilhas em tempos fez, a obsessão seria compreensível. Não sendo esse o caso, tenho alguma dificuldade em encarar este exercício de name dropping como fruto de um trabalho de investigação jornalística apurado, rigoroso e coerente. Muito pelo contrário: além da confusão e falta de factos, paira a sensação de que há uma instrumentalização dos media e, quem sabe, um aproveitamento de alguns dos visados ou de outros interessados em suceder a PPC, que assim testam as reações aos vários nomes, manipulando a informação que chega aos (poucos) leitores de jornais. O certo é que assim se dá um útil contributo ao atual governo na construção de uma narrativa sobre a “fragilidade” e o “isolamento” de PPC, de uma imagem do PSD em desagregação e que, como Carlos César frisou, está reduzido a um “partido dos contras”.

 

Blogger, Escreve à terça-feira


A obsessão pelo sucessor de Pedro Passos Coelho


A criação de teses e teorias em torno do sucessor de PPC tem já ocupado páginas e páginas nos media, com frequência sem citar fontes, avançando vários nomes: Luís Montenegro, Rui Rio, Morais Sarmento, Miguel Relvas


Há já algum tempo que a comunicação social vem especulando sobre a identidade do próximo líder do PSD. No final do ano passado, os jornais asseveravam que “críticos” de Pedro Passos Coelhos (PPC) já tinham assinaturas para um congresso. A criação de teses e teorias em torno do sucessor de PPC tem já ocupado páginas e páginas nos media, com frequência sem citar fontes, avançando vários nomes: Luís Montenegro, Rui Rio, Morais Sarmento, Miguel Relvas.

O “Expresso”, por exemplo, em finais do ano passado, explicava que o preferido do Presidente da República seria Montenegro. Em abril deste ano ficámos a saber que Miguel Relvas estaria na iminência de “desafiar” o líder do PSD com primárias. Este fim de semana, mais uma vez, o nome de Montenegro surge no semanário “Expresso” numa entrevista de uma página onde, expressamente, o hipotético candidato garante o seu convicto apoio a Passos, “por entender que é o mais bem posicionado para ganhar pela terceira vez as legislativas e o mais bem preparado para ser PM”. Esta forma clara e definitiva de manifestar o apoio a PPC não satisfaz o jornalista que, logo de seguida, revelando uma invejável capacidade premonitória, escreve a seguinte frase: “Líder parlamentar passa o cargo ao braço-direito e posiciona-se para o pós-Passos”.

Não sendo eu militante do PSD, ouço e leio a opinião daqueles que, à direita, confessam a desilusão com PPC ora por não ter estado à altura de reformas indispensáveis para o país e por ter aumentado os impostos, ora por ser demasiado cinzentão, pessimista, pouco carismático e sem uma estratégia de comunicação que galvanize as massas; para fazer uma verdadeira e eficaz oposição à geringonça, esperavam que Passos se “reinventasse”, como escreveu Fátima Bonifácio num texto, no início do ano passado. Mas as críticas ou opiniões sobre a atuação política de PPC e do anterior governo não se comparam com esta procura obsessiva, direcionada apenas à liderança do PSD, de um substituto para o “passismo” que os nossos media denotam, buscando alternativas ao candidato que, em bom rigor, venceu as últimas eleições.

Se PPC tivesse por hábito desrespeitar a comunicação social, por exemplo enviando sms intimidatórios a jornalistas como fez o nosso PM em tempos, ou se o PSD tivesse nos seus “quadros” antigos ministros que pedem, nas redes sociais, a demissão de jornalistas cujas palavras lhes causam transtornos, como Gabriela Canavilhas em tempos fez, a obsessão seria compreensível. Não sendo esse o caso, tenho alguma dificuldade em encarar este exercício de name dropping como fruto de um trabalho de investigação jornalística apurado, rigoroso e coerente. Muito pelo contrário: além da confusão e falta de factos, paira a sensação de que há uma instrumentalização dos media e, quem sabe, um aproveitamento de alguns dos visados ou de outros interessados em suceder a PPC, que assim testam as reações aos vários nomes, manipulando a informação que chega aos (poucos) leitores de jornais. O certo é que assim se dá um útil contributo ao atual governo na construção de uma narrativa sobre a “fragilidade” e o “isolamento” de PPC, de uma imagem do PSD em desagregação e que, como Carlos César frisou, está reduzido a um “partido dos contras”.

 

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