Ontem noticiava-se mais uma vez a morte do suposto califa do autoproclamado Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, quase um mês depois de o governo russo ter anunciado que era muito provável que o líder do grupo extremista tivesse morrido num ataque aéreo executado em finais de maio. Como noutras ocasiões em que a morte de Baghdadi foi relatada – e foram muitas –, não existia ontem quem o confirmasse com certeza. A notícia era avançada pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização sediada no Reino Unido e que depende de uma vasta rede de ativistas e informadores no solo da guerra civil. O grupo tem um longo historial de notícias verdadeiras e exclusivas sobre o conflito e ontem afirmava que os relatos da morte do suposto califa vinham dos mais altos níveis da organização.
“Confirmámos a informação com líderes, incluindo um da primeira linha, que é sírio e está no Estado Islâmico que ocupa a secção leste de Deir al-Zor”, afirmou ontem o diretor do observatório, Rami Abdulrahman. Odirigente do órgão não era capaz de dizer ontem onde é que o alegado califa morreu ou quando, apenas informando que Baghdadi esteve em meses recentes nas zonas rurais do leste da província de Deir al-Zor, próxima da fronteira da Síria com o Iraque. De acordo com a Reuters, nem o Pentágono nem os responsáveis iraquianos e curdos em combate contra o grupo são para já capazes de confirmar a notícia da morte do líder extremista. Os meios de comunicação do grupo mantinham-se ontem em silêncio e o porta-voz da coligação americana no combate ao Estado Islâmico, Ryan Dillon, tão-pouco sabia da morte de Abu Bakr al-Baghdadi. Apesar de tudo, concebe-se uma ordem de silêncio interno sobre o desaparecimento do líder numa altura em que o Estado Islâmico se esvai em territórios e símbolos dos seus anos triunfantes.
A informação do observatório é escassa e não é possível compará-la com os relatos do governo russo, que está também numa campanha de bombardeamentos contra o grupo extremista. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Baghdadi morreu em finais de maio num encontro de vários líderes em Raqqa, o último bastião urbano do grupo e a sua sede burocrática. Raqqa não pertence à província de Deir al-Zor, mas é suficientemente próxima para dar força aos relatos de ontem que vinham do observatório.
Moscovo, no entanto, tem um registo de reivindicações exageradas e tenta há meses dissipar a ideia de que as suas operações na Síria são mais de combate aos grupos extremistas que lutam contra o regime de Bashar al-Assad do que contra o Estado Islâmico. De acordo com Moscovo, Baghdadi morreu num ataque aéreo que atingiu o edifício onde decorria a reunião e onde estavam qualquer coisa como outros 30 líderes. A Rússia diz que na zona estariam cerca de 300 militantes para fazer a segurança dos seus comandantes.