Fomos todos passar uma semana a Quarteira num aparthotel com vista para as traseiras de outro aparthotel, piscina redonda com aqueles ladrilhos quadrados azul-bebé , jacuzzi, e garrafas pequenas de Martini no frigorífico do quarto. Foi uma pândega dos diabos, varremos os bares todos, bebemos shots de tequila com sal e limão, só os primeiros porque mais lá para a frente já virávamos os shots à cowboy sem sal nem limão nem nada. Cerveja era aos meios litros de cada vez. Depois voltámos para o aparthotel, esvaziámos o resto das garrafinhas de Martini, atirámo-nos todos nus para a piscina redonda com aqueles ladrilhos quadrados azul-bebé e por fim vandalizámos o que restava do lugar. Foi bonito.
Calma! Estava a brincar, não aconteceu nada disto que acabei de escrevinhar para aqui. Não aconteceu mas pelo andar da carruagem podia ter acontecido.
Vocês já se aperceberam que agora se fazem viagens de finalistas por dá cá aquela palha? Eh pá, na minha mocidade (para aí há uns 15 minutos atrás), havia viagem de finalistas quando se terminava a faculdade, ia tudo passar uma semana a Cuba ou à República Dominicana, enfiados dentro de um resort com pulseirinha e direito a comer e beber este mundo e o outro. Depois voltava-se sem qualquer memória do que por lá se passou por motivos de estarmos mais bêbedos que um fundo de barril de cerveja basicamente desde o momento em que apanhámos o avião de ida até aterrarmos novamente em Lisboa. Resta-nos as fotos das máquinas descartáveis Kodak na qual tínhamos de dar ao dedo sempre que queríamos tirar o dito retrato. E lá estamos nós, 10 quilos mais magros, com uns calções às florzinhas, um mojito na mão e os costados mais escaldados que um alemão em Agosto. A glória da juventude.
Ou então quando terminavas o 12º ano… Essa efeméride era considerada o momento de emancipação do jovem lusitano. A data crucial da vida de adolescente quando dizias aos pais que te ias portar bem, ias só disfrutar da praia, conviver um bocadinho com os colegas de turma e às 11 da noite já estavas de regresso ao hotel para 8 horas de sono não sem antes estudar um pouco para os exames finais. Tanga!
Torremolinos aí vamos nós! Palavras de ordem: emborcar toda e qualquer bebida que tenha teor alcoólico (perfume incluído) e sacar uma miúda pela primeira vez na raça da vida. Se der para destruir quartos de hotel e vomitar em todos os cantos da cidade, tanto melhor. Eu ainda estou para saber como é que não há mais gente traumatizada para o resto da vida quando a sua experiência sexual foi sob estas condições. Enfim…
Mas isto era dantes. Nos bons tempos quando se ouvia Nirvana, Cranberries e o Bono Vox ainda não tinha o aspecto do José Malhoa com óculos de lentes cor de laranja.
Agora? Ui! Agora fazem-se festas de finalistas no fim do nono ano. Do sexto ano, do quarto ano… Terminei a quarta classe, vamos todos para o sul de Espanha passar uma semana de arromba e beber até… ai não, espera… só tenho 10 anos, nem sei bem dar o nó dos atacadores das sapatilhas, ainda durmo com o peluche da Hello Kitty e estou a 8 anos de poder beber uma bebida alcoólica. Mas já tenho o primeiro ciclo do ensino básico despachado, é motivo de celebração. Antigamente ainda dava para entrar na GNR mas agora não estou bem a ver a importância da coisa.
Se isto continua assim, qualquer dia estamos a fazer festas de finalistas da primeira comunhão, do infantário, da utilização de fraldas descartáveis, do gatinhar, do largar a chupeta, da primeira dentição…
Eu cá não acho mal, só tenho é esta ideia parva e tacanha de que a festa ou viagem de finalistas deveria ser uma celebração de algo de relevo, que tenha custado à brava a conseguir e que seja um motivo de orgulho para quem almejou galgar essa barreira da vida. Mas se querem continuar a festejar assim à parva e sem critério quem sou eu para vos impedir.
Agora tenho desligar porque tenho um primo em segundo grau que terminou de montar uma cómoda do IKEA com a minha ajuda e portanto vamos fazer uma festa de finalistas para comemorar até o fígado pedir arreio. É que parecendo que não aquilo ainda tinha parafusos como o caraças.
João Pedro Santos
Escritor e Humorista.