O peido que o Salvador deu, não foi ele, fui eu

O peido que o Salvador deu, não foi ele, fui eu


Nas redes, ditas sociais, compostas por utilizadores-cidadãos cuja cidadania raramente exercem, a forma esmagou a substância. Que o digam Pedro e Salvador, povoadores do nosso imaginário que, em extremos opostos, nos desconcertaram nesta inefável semana.


Ser político na vertigem do tempo da indignação revela-se um exercício cada vez mais pobre: manipular sentimentos primários e criar comoção geral. Paradoxalmente, quanto mais se desenvolvem as tecnologias que nos deviam informar, e com elas a vertiginosa propagação de opinião, mais fácil se torna errar, chocar e não pensar pelos dois. Não pensar, aliás, por ninguém a não ser no efeito do que dizemos, e não no corolário do que fazemos.

A imensa nação do politicamente correto, geminada com a pátria do exaltamento, encontrou, no mais trágico incêndio, a multiplicação de especialistas em ordenamento da floresta, proteção civil e jornalismo. Por outro lado, o mais rudimentar e flatulento testemunho de uma sociedade acrítica chocou os pudicos cantores dos bons costumes.

Nas redes, ditas sociais, compostas por utilizadores-cidadãos cuja cidadania raramente exercem, a forma esmagou a substância. Que o digam Pedro e Salvador, povoadores do nosso imaginário que, em extremos opostos, nos desconcertaram nesta inefável semana.

Inadvertidamente unidos por Pedrógão, Coelho e Sobral divergem despropositadamente na perceção popular. O ainda deputado afirmou, sem confirmar, as mortes e o alarme que julgou no povo terem aceitação. Por sua vez, o laureado bufou um desabafo a uma audiência que, corretamente, julgou acéfala.

Talvez devagarinho possamos vir a aprender. Nos próximos dois dias, o presidente do PSD subirá ao palco para cantar, sisudo, a trova da “Segurança, Proteção e Assistência das Pessoas no Decurso do Trágico Incêndio de Pedrógão Grande”. Por sua vez, o rapaz cansado e sem nada para dar pedirá que oiçamos a sua voz e nós regressaremos, voltando a querer.

Talvez o líder do “cada vez menos maior” partido da oposição possa tirar uma ilação: com ele, os portugueses já não fazem planos para o que virá depois. Se um dia alguém perguntar por eles, digam que o desafiador tinha razão. O outro, não.

Deputado do PS