Pedro Sánchez , secretário-geral do PSOE, reuniu esta terça-feira com os senadores e deputados socialistas no parlamento. É a primeira vez que o líder do partido se encontra com os eleitos desde que foi demitido pelos barões do partido em 29 de outubro passado. Nesta reunião de trabalho, Sánchez afirmou que a sua prioridade era substituir o governo do PP, liderado por Mariano Rajoy, que considera que “ampara a corrupção e defende a impunidade [dos corruptos]”. Sánchez revelou que o líder do atual governo lhe tinha pedido, na segunda-feira, “moderação”, e que a sua resposta foi pedir-lhe “decência”. “Ele pediu-me moderação e eu pedi-lhe decência”, disse o líder aos eleitos do PSOE.
Sánchez garantiu que para a semana vai reunir-se com o líder do Podemos, Pablo Iglesias, e com o líder dos Ciudadanos, Albert Rivera, para os tentar convencer a apoiar uma alternativa de governo.
A tarefa parece, à partida, votada ao fracasso. Os Ciudadanos têm um acordo que permitiu viabilizar o governo de Mariano Rajoy e ajudaram a chumbar recentemente uma moção de censura do Podemos.
Os dois novos partidos emergentes, Ciudadanos e Podemos, são como azeite e água, e já declararam repetidamente que não participariam nunca num governo um com outro. O Podemos acusa os Ciudadanos de serem uma espécie de partido de direita disfarçado, e estes acusam o partido de Iglesias de pactuar com a divisão de Espanha e de serem extremistas de esquerda. Ambos consideram ser impossível defenderem uma mesma política de governo.
No entanto, Pedro Sánchez pode tentar acordar com eles um programa com medidas concretas a ser executado por um governo exclusivamente do PSOE, obstando assim à participação de Podemos e Ciudadanos num executivo comum. Esta solução do tipo geringonça teria a seu favor a condenação pública que os partidos de Rivera e Iglesias fazem à corrupção no PP de Mariano Rajoy. Daí o sublinhar, no discurso do líder socialista, da questão da corrupção, e não de questões sociais e de combate à austeridade, que seriam mais fraturantes entre as três forças.
A solução tem a grande fraqueza de não contar com um apoio maioritário dentro do governo num momento que se joga no Estado espanhol um conjunto de conflitos, nomeadamente o desafio do referendo na Catalunha, que é uma questão em que as posições dos três partidos parecem ser irreconciliáveis: PSOE e Podemos concordam na necessidade de procurar uma organização mais confederal de Espanha, os Ciudadanos, não; PSOE e Ciudadanos querem proibir o referendo na Catalunha, o Podemos é pelo direito dos catalães a decidir.
Caso falhem as conversações, a única alternativa que Sánchez tem é a que ele não quer: um governo do PSOE com apoio do Podemos e dos partidos nacionalistas da Catalunha e País Basco.