Além de um “roadshow” para angariar apoios e divulgar a ideia e da realização de um curto filme sobre Portugal, em março deste ano os responsáveis apresentaram aqueles que são os “trunfos” que fazem de Portugal o país indicado para receber o investimento da empresa americana. Foi também apresentado um “Premium Book”, reunindo fotografias de 16 fotógrafos portugueses, para dar a conhecer ao CEO da Tesla a nossa portugalidade.
Um dos co-fundadores explicava numa entrevista de março que, se Portugal fosse escolhido, o investimento representava metade do PIB português em contrapartidas diretas e indiretas a 20 anos. Vem isto a propósito da discussão que aterrou no país por causa da hipotética vinda da Agência Europeia de Medicamentos (AEM), cuja principal atribuição é a promoção da saúde pública e animal através da avaliação e supervisão dos medicamentos para uso humano e veterinário. Segundo dados da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, esta deslocalização implica a vinda de centenas de pessoas, incluindo funcionários, o trânsito de 36 mil visitantes cujo destino é aquela Agência e ainda 30 mil dormidas. O Governo candidatou Lisboa e os nossos deputados aprovaram um “voto de saudação” pelo apoio à candidatura portuguesa. O Porto contestou o centralismo refletido na decisão do Governo que, por seu turno, se desdobrou numa cartilha de explicações, nomeadamente a proximidade do Infarmed e a criação de uma Escola Europeia.
Independentemente da incoerência que vem sendo apontada aos deputados, eleitos pelo Norte, que louvaram a candidatura da capital, a importância dada pelas nossas instituições – comunicação social incluída – a este tema contrasta com o desprezo que mereceu aquela iniciativa da sociedade civil, cujo objetivo era persuadir o CEO de uma gigante norte-americana a investir, criar empregos e desenvolver competências em Portugal. Em ambos os casos se trata de escolher Portugal, num caso para o investimento privado, no outro para instalar um organismo da administração pública europeia. Se o entusiasmo e a escala do debate público em torno desta última opção refletem uma certa dimensão da portugalidade, da preferência pelo público em detrimento do privado, a verdade é que não deixa de causar algum espanto a apatia da diplomacia económica e a falta de motivação pública de um governo que prometeu, em 2015, reforçar o investimento em ciência e tecnologia e que entre 2016 e 2018 acolhe uma importante conferência de tecnologia. Fica a sensação de que este é um governo que se desdobra em esforços – como explicou o primeiro-ministro “até ao limite” ou “até ao último momento” – para defender a candidatura de Portugal num determinado processo e que pouco ou nada faz para sindicar a vinda da Tesla para Portugal e para captar o investimento estrangeiro de que tanto precisamos.
Blogger
Escreve à terça-feira