E agora, PPD?

E agora, PPD?


Bancada está entre o receio e o expectante. Confiança no ‘timing’ de Passos mantém-se. Mas há dúvidas.


O sucesso do Governo é o insucesso de uma oposição? O PSD não muda de discurso e o Governo pode ter um para cada momento. Se Costa consegue ser europeu em Bruxelas, socialista em Lisboa, responsável em Belém, sorridente na televisão e primeiro-ministro em São Bento, Passos continua Passos. Não muda, nem quer mudar, uma vírgula. 

A insistência na necessidade de reformas, os avisos para «não voltar a 2011» e ao Governo do «engenheiro Sócrates», a recusa numa gestão de comunicação mais intensa e o repúdio à situação grega («apanhem um aviãozinho e vão ali a Atenas explicar ao sr. Tsipras») mantêm-se e já vai a meio da legislatura como líder da oposição. 

O que mudou, diz Passos, foi o Governo minoritário do Partido Socialista. 

«Quando estiveram na oposição diziam o contrário do que agora fazem; agora, no Governo, querem salvar o que antes criticavam», afirmou, este mês. 

A tese serve para o défice, que tanto Passos quanto Costa tomaram como prioridade política, como até para os elogios de Wolfgang Schäuble. Se Vítor Gaspar era acusado de ser um «bom aluno» do ministro das Finanças alemãs, Mário Centeno é saudado por Schäuble como um «Ronaldo» dos governantes da economia europeia. 

«O PS e o Governo basicamente adotaram como discurso e como prioridades o que nós antes fazíamos», defende o ex-primeiro-ministro. «Ao fim de um ano, o governo converteu-se». 

A questão que este cenário levanta, e fez pensar alguns deputados da bancada social-democrata, foi: «E agora fazemos oposição a quê?». 

«A austeridade está lá toda. O Estado não tem dinheiro para gastar. Era o que nós dizíamos, não há milagres. Ou cumprimos as metas ou não respeitamos as metas e é pior», diz Passos – e o facto é que o PS de Costa está a cumprir as metas. 

Ao que o SOL apurou, o grupo parlamentar do PSD conseguia mais coesão antes de 2015 e da formação da solução de Governo conhecida como ‘geringonça’. «Quando estávamos em Governo levámos tanta pancada que a reação era sempre unir em torno do líder. Agora, há mais dispersão. Há mais ‘cada um por si’», esclarece um vice-presidente da bancada laranja. 

«Não há dúvida que se continua a confiar no timing dele [ Passos Coelho]. Nas últimas legislativas também foi ele a marcar o tempo de ação e agora estamos à espera», prossegue a mesma fonte, que requereu anonimato. O compasso, então, ainda está na mão de Passos. O tempo, hoje, é de «aguentar». 

Até os críticos, construtivos ou não, não abdicam de lançar algumas sugestões à direção nacional, mas em circuito fechado, longe dos holofotes. «Aí, há um grande respeito institucional, que não é negativo. As pessoas não têm essa noção, mas se lhe bater à porta com uma página e algumas ideias ele não leva nada a mal, bem pelo contrário». 

O SOL sabe que ainda há uma elevada dose de reconhecimento pelo modo como Passos Coelho aguentou o Governo de coligação PSD/CDS durante quatro anos – a sua maioria sob intervenção externa. 

«Ele trouxe uma ideia de sociedade aberta para o partido que tem valor e que contrasta totalmente com quem governa hoje», salienta uma parlamentar social-democrata. Para ela, é por aí que se deve insistir como oposição. E os impostos, «claro». «É verdade quando dizemos que as reformas do nosso Governo ajudaram a beneficiar da conjuntura económica atual, mas o mais difícil é ver como o clima de euforia nacional com o ‘Euro, o Festival da Canção, o Guterres na ONU, parece tudo mérito do Governo». Se o Presidente da República tem responsabilidade no patrocínio dessa alegria, a deputada limita-se a sorrir, sem conceder resposta ao SOL. «Passos tem toda a razão quando diz que o Governo se apropriou do que o PSD fez. Mas a pergunta aí assusta: se assim é, o PSD existe hoje para quê?». E à pergunta retórica não se deram sorrisos.