Novos dadores de sangue em queda há cinco anos

Novos dadores de sangue em queda há cinco anos


Reservas nacionais de sangue estão em níveis confortáveis e garantem autosuficiência, mas IPST quer atrair mais dadores para o futuro


Portugal está com reservas estratégicas de todos os tipos de sangue em níveis suficientes para assegurar mais de sete dias de necessidades e, em alguns casos, mais de dez dias. O ponto de situação foi traçado ontem ao i pelo presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), João Paulo Almeida e Sousa, que assinala que esta é uma situação confortável e que garante a autosuficiência do país. Hoje assinala-se o Dia Mundial do Dador do Sangue e o responsável sublinha que a trajetória é muito positiva. No que diz respeito ao futuro, atrair novos dadores é uma das preocupações do IPST.

As estatísticas divulgadas no portal de transparência do Ministério da Saúde revelam que, embora as colheitas de sangue surjam em número suficiente para assegurar os consumos nos hospitais, o número de novos dadores que se inscrevem a cada ano para doar sangue tem estado a diminuir de forma continuada desde 2012. Nesse ano, houve registo de 61.843 dadores de primeira vez, número que baixou para 40.449 no ano passado. Já nos primeiros quatro meses deste ano há registo de 7832 dadores de primeira viagem, contra 13.890 no mesmo período do 2016.

João Paulo Almeida e Sousa sublinha que, numa primeira análise, é importante garantir que as unidades colhidas são suficientes para o país, o que tem sido conseguido, adiantando que os avanços da medicina transfusional levam a que sejam necessárias menos unidades do que no passado. O responsável aponta como exemplo de sucesso o cenário conseguido na visita do Papa a Fátima, em que um dos objetivos do plano de contingência montado pelo Ministério da Saúde era que todos os hospitais de prevenção tivessem reservas de sangue para vários dias, para o caso de acontecer algum acidente de maiores proporções, o que foi atingido, revela o dirigente. Durante o ano, o período da gripe e o verão são os mais exigentes em termos de necessidade de sangue mas, por agora, os sinais são positivos. Já para a trajetória de diminuição dos novos dadores, Almeida e Sousa admite que o envelhecimento da população e a emigração dos últimos anos são alguns factores que poderão pesar na equação que pretendem inverter. Atrair dadores mais jovens é, por isso, um dos objetivos do instituto. “A presença de brigadas de colheita em faculdades e politécnicos é uma das formas de promoção da dádiva que mantemos de forma continuada”, assinala o presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação. Para este verão têm previstas campanhas junto dos mais novos, nomeadamente no acampamento nacional do Corpo Nacional de Escutas que vai juntar milhares de jovens em agosto em Idanha a Nova. “Muitos não têm ainda 18 anos (a idade mínima para doar sangue) mas é uma oportunidade de sensibilização”.

No ano passado, 12% dos dadores registados no IPST tinham menos de 25 anos, percentagem que vai ainda ao encontro das expectativas dos responsáveis. Garantir que a adesão se mantém ou aumenta é a intenção.

Almeida e Sousa admite que aquando da divulgação da Operação “O Negativo”, que investiga fraude no fornecimento de plasma ao SNS, teve receio de que a situação pudesse causar apreensão junto dos cidadãos, mas assegura que o compromisso do instituto na redução do desperdício de plasma colhido a nível nacional é total e que não há sinais que o caso tenha afectado as dádivas. Por outro lado, no ano passado os dadores de sangue regulares de sangue tornaram a estar isentos do pagamento de taxas moderadoras em todos os serviços, uma medida de incentivo à dádiva. Em abril, havia 146.382 dadores benévolos de sangue isentos.

Este ano, o tema apresentado pela Organização Mundial de Saúde para o Dia Mundial do Dador do Sangue é a doação em tempo de crise, uma referência aos desastres e conflitos mundiais. O apela da OMS é direto: “Não espere que os desastres aconteçam. O que pode fazer? Dê sangue, dê já, dê com frequência”. Estima-se que se 1% da população desse sangue estariam garantidas as necessidades básicas da população. No ano passado, o país registou 218.000 dadores aprovados para dádiva, uma ligeira diminuição face ao ano anterior.