A misteriosa matemática de Morais

A misteriosa matemática de Morais


A vice de Passos foi elogiada do Bloco ao PS, mas o seu nome não passou. O voto secreto traiu, da direita à esquerda.


Foi esta quarta-feira que o nome de Teresa Morais saiu chumbado para presidir à Comissão de Fiscalização das secretas.

O nome, que precisava de uma maioria qualificada de dois terços na votação por voto secreto, não passou, mesmo depois de uma audiência bem mais profícua em elogios do que em críticas.

Carlos César, líder de bancada do PS, já havia defendido que Morais não possuía «o perfil» indicado, sendo excessivamente próxima da atual «direção partidária» dos sociais-democratas. Teresa Morais, além de deputada, é vice-presidente de Pedro Passos Coelho na direção nacional do PSD e foi secretária de Estado e ministra do antigo chefe de Governo.

Morais, que não é estranha ao conselho que fiscaliza os serviços de informação nacionais, tendo já integrado o órgão duas vezes, foi elogiada na audiência que antecedeu a votação, inclusivamente por parlamentares do Partido Socialista.

Jorge Lacão, que com ela serviu na comissão referida, saudou a sua «idoneidade» e «dedicação». A resposta foi pronta: «Dizer-me que sou dedicada e que o meu currículo é adequado, para mim basta».

Excetuando a tomada de posição oficial de César como presidente do grupo parlamentar do partido de governo, nenhum outro deputado do PS questionou ou criticou a vice de Passos. «É absolutamente óbvio que tem as qualificações necessárias e eu estou convencido de que terá também as qualidades», afirmou João Soares, outro veterano da bancada socialista. Carlos César fez finca-pé por um nome de maior distância «em relação às direções partidárias» e as alternativas mais faladas no círculo laranja têm sido Matos Correia e Fernando Negrão, mas depois da circunstância algo bizarra «de se reprovar alguém que se elogiou», não é líquido que os visados aceitem ser o novo nome do PSD, «até por respeito à Teresa Morais», esclarece uma deputada social-democrata, ao SOL. Negrão, aliás, foi um dos colegas de bancada de Morais que mais elevou as suas qualidades enquanto candidata ao cargo.

Mas se até o Bloco de Esquerda elogiou Teresa Morais – José Manuel Pureza constatou os seus «enormes méritos como deputada e jurista» – o certo é que, quarta-feira, o nome não passou no voto secreto dos partidos representados na Assembleia da República. Morais teve somente 112 dos 142 votos necessários.

Presumindo que toda a antiga coligação PàF – o centro-direita português, portanto, – terá votado favoravelmente o seu nome, Teresa Morais terá tido mais cinco votos que os correspondentes aos dos deputados do PSD e do CDS. A ala esquerda do Parlamento, em voto secreto, furou as direções de bancada em número superior aos que públicos elogios haviam feito.

E ao que o SOL apurou houve mesmo um mistério na matemática eleitoral que vetou Teresa Morais. É que do lado dos socialistas, um vice-presidente de bancada assegura que «é impossível terem sido só cinco [deputados socialistas] a votar a favor» e do lado do PSD outro vice-presidente de bancada revela, requerendo anonimato, que duvida «que todos [os sociais-democratas] tenham votado a favor» de Teresa Morais. A deputada, que é uma das possíveis sucessoras de Luís Montenegro na liderança de bancada depois do congresso, não é detentora de uma unanimidade no que diz respeito a afetos internos. E o voto, afinal, foi secreto – e para os dois lados.