Aposto que se fossemos fazer um voxpop, a maioria das pessoas diria que o Doug tem uma profissão de sonho. Como é que se chega lá?
As coisas não aconteceram exatamente como tinha planeado, principalmente porque eu nunca planeei muito. Mas para condensar cerca de vinte anos em algumas frases, digo que comecei como mochileiro a viajar pelo mundo e consegui transformar isso num emprego. Foi preciso trabalho e um pouco de sorte. Comecei com algumas peças para rádio, seguiu-se um programa de televisão e alguns livros. Tudo isto levou a que me chamassem para falar em universidades e em palestras sobre turismo. Comecei então a escrever e a falar mais sobre o turismo como negócio. E aqui estamos.
Mas de onde veio essa necessidade de escrever sobre as suas viagens?
Agora não consigo fazer isso tanto quanto gostaria, até porque agora a maioria das minhas viagens são de negócios e esse tipo de viagens acaba por ser muito estranho. Perdem-se horas infinitas em aeroportos, aviões e hotéis modernos e dificilmente consegues experienciar a cultura do país.
Como é que se consegue essa experiência?
Por exemplo, ao apanhar um autocarro que os habitantes apanham – e não os turísticos – ou comer com uma pessoa que seja de lá, ou até mesmo ao parar para pedir informações. Normalmente são experiências com moradores para as quais não tens que pagar.
Qual foi a sua primeira viagem digna desse nome?
A minha primeira viagem a sério foi uma ida ao Japão com 14 anos para visitar uns primos que estavam lá a trabalhar. Lembro-me de achar que tudo era diferente do que estava habituado: a comida, as casas de banho, as estradas, as camas, tudo. Foi um choque.
E a última?
Na verdade, ainda a estou a fazer. Estou neste momento no aeroporto depois de uma viagem de dois dias para Davos, onde fui falar num evento de turismo na Suíça. Foi um dos melhores eventos que assisti: bem organizado, muita gente, o sítio era incrível e o hotel era ótimo. Parecia o sítio onde o vilão do James Bond poderia viver.
Já viajou por mais de 120 países. Quais são os favoritos?
Normalmente os meus preferidos estão relacionados com os meus hobbies. Adoro fazer kitesurf e ultimamente tenho procurado sítios onde posso fazer isso. É por isso que o norte do Brasil está no topo da minha lista hoje em dia. Mas existem outros, até porque há outras coisas que fazem de um sítio um dos meus preferidos: as pessoas que conheci, as refeições, o clima. Mas isso é sempre pessoal e podem não ser fatores que façam desses sítios os preferidos de outras pessoas.
Consegue escolher o sítio mais incrível onde já esteve?
Não consigo porque não olho para as viagens dessa forma. Penso sempre nas viagens como uma coleção de experiências. É como um bom filme, às vezes o que o torna inesquecível é o fato de ter as expectativas em baixo quando o escolhe para ver. Além disso, outra das coisas que para mim tornam uma viagem inesquecível são as pessoas que encontras e isso é totalmente aleatório. Uma dessas experiências aconteceu no campeonato europeu de Escultura na Areia: convidaram-me para fazer parte de uma equipa e eu não estava nada entusiasmado com a ideia. Acabei por passar uma semana de pá na areia numa praia na Holanda com um grupo de pessoas que não conhecia e foi surpreendentemente bom.
E a maior desilusão?
Provavelmente quando viajamos em família e um dos meus filhos fica doente. Viagens em família custam uma fortuna e, se uma criança fica doente nesse período, não há como não se sentir desapontado.
Mas existem sítios aos quais não quer voltar?
Claro. Nalguns casos, pode ter sido apenas uma má experiência pessoal, mas em muitos outros casos as razões estão nos próprios sítios. Existem locais, que não estão a criar barreiras ao que vem de fora, o que faz o turista sentir que nunca saiu de casa. Especialmente na Europa, dezenas de pequenas cidades estão a ficar dolorosamente turísticas.
Portugal, com o boom do turismo, é um desses casos. O turismo é sempre uma coisa boa?
Definitivamente não. Um destino pode ter turistas, mas os turistas devem ter um destino. Normalmente, quando acontece um boom no turismo, os visitantes sugam os recursos e quase que passam por cima da cultura desse local.
Mesmo com esse olhar crítico, há algum sítio onde voltaria agora, se pudesse?
Agora estou focado em mostrar aos meus filhos algumas das melhores experiências que tive a viajar. Isso vai desde caminhadas e mergulho nas Ilhas Galápagos, fazer um safari de canoa no Rio Zambeze ou um trail no Parque Nacional de Canyonlands, nos Estados Unidos.
Assumo então que prefere viajar acompanhado.
Sim, é sempre bom ter alguém com quem partilhar experiências.
O que é que nunca falta na sua mochila?
Fita Adesiva, imodium e comprimidos para dormir. Ah, e costumo levar sempre um cinto de segurança para as longas viagens de autocarro que se fazem em países de terceiro mundo. Acidentes de carro continuam a ser a primeira causa de morte dos viajantes.