Millennials. Como é que eles consomem informação?

Millennials. Como é que eles consomem informação?


Até dia 12, o projeto KEEPinMIND promove debates entre mais de 40 jovens de seis países diferentes, com a crise dos media como pano de fundo. O i falou com oito millennials presentes no encontro em Itália para perceber quais são os meios de comunicação que mais utilizam. A televisão e os jornais em papel…


"É difícil confiar na informação"

Não leio jornais, consulto a informação toda online conforme os gostos que tenho. Como a informação é muitas vezes controlada, procuro ler jornais de outros países. Nem eu nem os meus amigos temos televisão. Só os mais idosos é que consomem informação pela televisão e nem se apercebem do quão manipulada é. É tão difícil saber filtrar o que é bom ou o que é mau. Há bastantes jovens a criar conteúdo – na maioria das vezes, mau conteúdo – sobre o que comeram ontem ou o que vestir. Mas o que é muito difícil é confiar na informação hoje em dia, nunca há forma de saber o que é verdade. 

Evi, 25 anos, Roménia 

“Informo-me no café”

Não vejo televisão, não leio jornais. A maioria da informação que recebo é pelos outros, gosto de ir ao café e de me informar. Para o que quero procurar, esforço-me por tentar encontrar as fontes mais credíveis, os artigos têm de ser assinados por autores especializados no assunto. Aprendi na universidade que nem os professores sabem bem procurar fontes credíveis. O sistema de educação não te ensina a saber filtrar informação. Por isso, para mim, a informação primária é a mais importante, a que vem dos meus colegas mais especializados em determinada matéria e que me explicam o que se passa, por exemplo. Em termos de meios, a rádio, para mim, é o mais credível.

Matija, 25 anos, Eslovénia

“Não há risco para o jornalismo

Não vejo televisão nem leio notícias online todos os dias. Só leio as notícias que as páginas que sigo partilham e que me interessam. Leio jornais em papel de vez em quando. Ao longo da História, sempre houve gente interessada em informação e os que não estavam interessados de todo. Às vezes, um grupo cresce, outras vezes cresce o outro. Acho que agora estamos numa fase em que o grupo de gente não interessada está a crescer. No entanto, penso que vai haver sempre quem consuma jornalismo e quem entenda que ele é necessário. O modo de consumir a informação vai adaptar-se, mas não há risco de perdermos o bom jornalismo.

Tina, 27 anos, Eslovénia

“Não podemos confiar em nada nem em ninguém” 

Tenho uma rotina que inclui ouvir rádio logo de manhã enquanto tomo banho, acabo sempre por saber as notícias por lá. A televisão ligo, mas para ter companhia em casa, não para consumir informação. Sinto que não podemos confiar em nada nem em ninguém. O que vemos, o que ouvimos é tudo uma caixa e é tudo filtrado. Recebemos informação de outros países e nem sabemos se aquelas fontes existem mesmo, se alteraram o contexto. Mas temos de ser conscientes sobre nós próprios: estudar História é o mais importante para compreendermos o presente, até porque ela teima em repetir-se. 

Rafa, 30 anos, Polónia

“O maior problema do mundo é a desinformação” 

Leio muitos jornais online, às vezes em papel, mas quase não vejo televisão. O maior problema do mundo é a desinformação. Hoje em dia é tudo demasiado rápido, não há uma lente que nos ajude a perceber o que se passa, não há contexto, é tudo cru. No Facebook confia-se nas páginas onde deixaram um like, mas esquece-se que o que chega até nós não é, necessariamente, sempre informação. Há demasiada gente a partilhar notícias que já foram escritas há anos, sem sequer se preocuparem em abrir os links, em ler o que partilham. Perde-se tempo em blogues e websites com conteúdo fútil, sem qualidade.

Sofia, 21 anos, Portugal 

"Há demasiadas notícias que não deviam lá estar"

Vou diretamente aos jornais online em que confio mais, mas há demasiadas notícias que não deviam estar lá. O que sinto muitas vezes é que sim, quero estar informada, mas depois leio as notícias e não percebo nada do que se passa, porque não há contexto: na maioria das vezes, as notícias são curtas e rápidas. Depois acabo por ver o que vem ter comigo, também não vou propriamente à procura das notícias. Na nossa geração, acho que estamos interessados em ser informados, mas acabamos por perder muito tempo. Acabo a fazer scroll e a perder tempo a consumir outro tipo de coisas, mais de entretenimento.

Laura, 24 anos, Espanha 

“Tentei que o meu pai questionasse as notícias…” 

Até na escola, a forma de receber informação mudou. Hoje, o professor é um mediador de informação. Mas o importante é ensinar a desenvolver o espírito crítico: os alunos, hoje, devem aprender o que é ou o que não é consumível. A nossa geração aprendeu a duvidar de tudo, duvidamos de toda gente. É difícil ter certezas e os jantares de família são momentos interessantes de confronto de informação. Dá para perceber como olhamos de forma diferente para as coisas. Pedi ao meu pai que questionasse as notícias e ele passou–se, é impossível. Pedir que questionem o 11 de Setembro é impossível.

Fábio, 21 anos, Portugal 

“Sentimos que somos incompreendidos”

A nossa geração não tem nada de próprio, não criámos uma nova forma de pensar, não criámos um novo estilo de literatura, é tudo uma mistura do que já existe. De certa forma, sentimos sempre que somos incompreendidos. E no consumo da informação nota-se isso. Recebemos tantas informações diferentes de forma tão rápida que cria em nós um género de apatia, estamos anestesiados, e isso é péssimo. Sentes-te perdido, certo? Eu leio mesmo muito, livros, diferentes artigos de diferentes perspetivas e opiniões. Estou sempre mais preocupado com o que podíamos ser, e não com o que já somos. 

Kevin, 25 anos, Itália