Todas as visitas que o presidente dos EUA tem feito merecem amplo destaque na comunicação social, tornando-se cada vez mais óbvio que não só os media não gostam de Trump como se esforçam por mostrar o ridículo do presidente e da sua família e, além disso, que, com a exceção daqueles que votaram em Trump, o resto do mundo, dos países e dos líderes políticos não vão em trumpices. Com a exceção do passeio de mãos dadas entre Trump e Theresa May, aquando da visita desta a Washington, na visita da chanceler alemã à Casa Branca, Trump terá sido grosseiro, e Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano, terá hesitado em apertar a mão a Donald Trump também durante a sua visita. É de propósito que formulo meras hipóteses porque há, na imprensa americana e portuguesa, informação disponível para sustentar e contrariar a versão que preferirmos. Esta semana tivemos mais um exemplo deste esforço quando, na quinta feira, a comunicação social portuguesa, nomeadamente o “Público”, dava nota de um “momento embaraçoso” na visita de Trump ao Vaticano resumido numa imagem que, além dos jornais, se tornou viral nas “redes”.
Na dita cuja via-se, da esquerda para a direita, o genro do presidente e a filha, a sua mulher, Melania, o presidente e o Papa Francisco. A imagética mereceu vários comentários a propósito da indumentária das senhoras, mas o centro da discussão foi o ambiente desconfortável que pairava na sala, refletido no não-sorriso do Papa. Se “uma imagem vale mais que mil palavras”, é óbvio que Francisco estaria sisudo e distante, evidenciando uma característica pouco diplomática de quem não consegue esconder os sentimentos nutridos pelo presidente americano. Pouco se falou da piada que o Santo Padre fez a Melania sobre uma sobremesa eslovaca, do seu pedido para que o Papa lhe benzesse um terço e muito menos do simbolismo da prenda oferecida a Donald Trump, as encíclicas sobre as alterações climáticas.
A intenção da divulgação desta imagem pelos media parece ser levar-nos a concluir que as relações institucionais entre o Vaticano e os EUA se resumem à linguagem corporal do Santo Padre, que recebia o líder do mundo ocidental contrariado. Tal como as hesitações de Trudeau significariam um arrefecimento nas relações com os EUA e a grosseria em relação a Merkel uma manifestação de machismo e sobranceria, tipicamente americanos. Não querendo desmentir a sabedoria popular, a verdade é que a celeuma foi tal que o autor da imagem, da Associated Press, se viu na obrigação de explicar que, segundos depois da captação da fotografia, o Papa sorria. Que as redes sociais se alimentem de polémicas e de likes, não deve surpreender; que a comunicação social se aproveite daquilo que circula nas redes para se promover, para entreter e, sobretudo, para conformar a opinião pública, é lamentável. Não só não contribui para o discurso rigoroso e sério que numa democracia saudável deve existir como também apenas serve para desinformar o cidadão, veiculando uma muito pouco rigorosa interpretação dos factos que marcaram a visita de Trump. A fronteira entre este tipo de “jornalismo” e as chamadas fake news é muitíssimo ténue.