Imigrantes registam quase cinco vezes mais casos de tuberculose

Imigrantes registam quase cinco vezes mais casos de tuberculose


Direção Geral da Saúde apresentou ontem um ponto de situação da epidemia da sida e tuberculose em Portugal. “Pílula” do VIH a caminho


Os novos casos de VIH/sida em Portugal continuam a diminuir mas ainda há uma percentagem significativa de diagnósticos tardios – em 2016, mais de quatro em cada dez doentes apresentavam já as defesas em baixo quando foram diagnosticados e 19,1% estavam já no estádio de sida, uma subida face ao ano anterior. O novo ponto de situação sobre a epidemia no país foi apresentado ontem pela Direção Geral da Saúde, que até 2020 pretende reforçar a oferta de testes de rastreio mas também a prevenção, avançando-se com a profilaxia de pré-exposição ao vírus da sida (PrEP), ou seja, a toma de medicamentos antiretovirais por pessoas em maior risco de contrair o vírus e que ficam, desta forma, protegidas. Esta espécie de “pílula do VIH”, que já é tomada em Portugal por alguns homens que têm sexo com homens mas que tem de ser comprada no estrangeiro, dado que a prescrição ainda não é legal no país para estes casos, poderá vir a ser comparticipada. Um despacho do governo determinou que o Infarmed deve fazer uma avaliação prévia dos medicamentos, enquanto à DGS caberá definir as regras de prescrição e acesso.

Outro dado disponibilizado pela DGS, que gere o VIH e a tuberculose no mesmo programa prioritário de Saúde, revela que embora a incidência de tuberculose no país continue também a diminuir, entre os estrangeiros a residir em Portugal a epidemia ainda está muito acima dos valores de referência na Europa Ocidental: a incidência desta doença entre os imigrantes é mesmo 4,8 vezes superior à incidência nacional. A nível geral, há uma incidência de 16,5 casos de tuberculose por 100 mil habitantes mas entre a população estrangeira a incidência apurada em 2016 foi de 86,7 casos por 100 mil habitantes.

Os números

O balanço da DGS revela que, no ano passado, foram diagnosticados e notificados 841 novos casos de infecção por VIH e 1699 casos de tuberulose, a que acrescem 137 recaídas.

No que diz respeito ao VIH, o contágio continua a verificar-se sobretudo entre homens: por cada três mulheres diagnosticadas no ano passado com o vírus da sida existiram sete homens diagnosticados. A incidência concentra-se sobretudo no distrito de Lisboa, que regista 41,1% dos casos, seguindo-se um maior número de seropositivos no Porto e em Setúbal. Mantém-se também o predomínio da transmissão heterossexual, que desde a segunda metade da década de 90 passou a ser mais expressiva do que os casos de contágio homo ou bissexual. Atualmente, 57% dos novos casos de VIH verificam-se em relações hetero, seguindo-se os casos de transmissão entre homens que têm sexo com homens.

Até 2020, os objetivos nacionais – em linha com a estratégia da ONU – são que 90% das pessoas que vivem com VIH saibam que estão infetadas, que 90% destas estejam em tratamento e que, destas, 90% tenham a infeção controlada. Segundo os dados disponibilizados ontem, o primeiro patamar já terá sido atingido – estima-se que existam 45.501 pessoas com VIH em Portugal, das quais 41.073 estão diagnosticadas (90,3%). Se a notícia é boa, isto também significa que haverá ainda cerca de 4500 pessoas por rastrear.

No que toca aos tratamentos, só há dados relativos a 34.391 pessoas seguidas nos hospitais portugueses, das quais 31.304 estão medicadas (um aumento de 4,6% face ao ano anterior). Dos doentes em tratamento, 88,2% apresentam uma carga viral inferior a 200 cópias/ml, o objetivo pretendido.

Na análise da tuberculose, a elevada proporção de casos entre imigrantes é o indicador mais negativo, até porque os casos entre estrangeiros têm estado a aumentar – ao contrário do que se passa na população em geral, em que os novos casos de tuberculose em Portugal caíram para metade entre 2000 e 2016. Já os dados nacionais sobre tuberculose resistente a tratamentos, uma preocupação a nível internacional, são favoráveis. Em 2016 verificaram-se apenas 19 casos de tuberculose multiresistente, 1% do total, quando a média europeia ronda já os 4%.

Algumas das novas medidas para este ano incluem a avaliação do número de doentes que abandonam os tratamentos e os motivos e mais campanhas de informação e prevenção. Outra novidade é a adesão nacional ao Projeto “Fast Track Cities – Cidades na Via Rápida para eliminar o VIH”, um compromisso internacional lançado em 2014 em Paris para a mobilização de mais recursos nas grandes cidades para o combate ao VIH. Lisboa, Porto e Cascais serão os municípios aderentes.