“As alterações climáticas são reais, isto não é ficção científica”, começou por alertar Rajendra Pachauri, fundador do projeto Protect our Planet Movement e vencedor do Nobel da Paz em 2007, em nome do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, durante a sua intervenção nas Conferências do Estoril, que arranacaram esta segunda-feira.
Pachauri avisou a plateia que os efeitos das alterações climáticas já se sentem e poderão agravar-se num futuro próximo. “Durante a vossa vida, vão enfrentar situações que estarão, por exemplo, relacionadas com a subida do nível dos mares. Se não se fizer nada entretanto, no final do século o nível do mar subirá cerca de um metro. E esta é uma situação que pode ser agravada pelo degelo – é possível que grandes pedaços de gelo caiam no oceano, tornando a situação ainda mais dramática”, alertou.
Outas das coisas que podem acontecer é um aumento das vagas de calor e das cheias: fatores que podem pôr em causa a vida de milhares de pessoas de todo o mundo, pois não só afeta o território, destruindo as propriedades, mas a produção de alimentos, explicou o cientista indiano.
Pachauri não acredita que os governos consigam, por si só, resolver estes problemas. “O Acordo de Paris foi um passo dado em frente, mas temos de dar mais. No entanto, este acordo já nos dá a oportunidade de chamar a atenção de todas as nações do mundo, com o objetivo de avançarmos em conjunto… Talvez até com os Estados Unidos da América”, afirmou o cientista, fazendo referência ao facto de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter ameaçado desvincular o país do Acordo de Paris, prometendo para a "próxima semana" uma decisão final sobre o assunto.
E esta não foi a única vez que os Estados Unidos foram referidos: enquanto fazia um apelo aos jovens para que pressionassem as instituições, Pachauri voltou a falar sobre Trump. “Durante as eleições, os jovens devem pedir para que sejam apresentadas medidas para combater o desperdício e ajudar a lidar com os problemas no ambiente. ‘Se não apresentares algo e não fizeres alguma coisa, não terás o meu voto’, podem dizer os eleitores mais novos. Se todos pensassem assim, Donald Trump não estaria agora na Casa Branca”, afirmou o especialista.
“Aliás, a propriedade de Trump na Florida corre um perigo sério porque, nos próximos anos, uma grande parte daquela propriedade estará inundada, devido à subida do nível do mar. Pode não acontecer nos próximos anos, mas acontecerá brevemente”, alertou Pachauri.
“Não deito fora roupa com 40 anos”
Perante uma plateia cheia de jovens, o cientista indiano referiu dois dos fatores que mais prejudicam o ambiente: o desperdício e o consumo excessivo. “Se vão de carro para a escola ou faculdade, pensem nas consequências dessa ação, vejam se não existem alternativas. Também têm de fazer alterações no vosso dia-a-dia. Pensem na quantidade de roupa que compram. Eu não deito fora peças de roupa que têm 40 anos. E a verdade é que muitas destas peças poderão voltar a estar na moda em breve. Outro apelo: comam menos carne. Fará bem à vossa saúde e à saúde do planeta”, aconselhou o Pachauri.
O cientista indiano fez ainda questão de falar sobre Portugal, sobre a sua beleza e os perigos que corre. “A juventude tem de tomar as rédeas da situação. E aqui incluo a juventude portuguesa. Este é um país muito bonito, mas também muito vulnerável às alterações climáticas: vocês têm uma costa muito grande e, por isso, muitas pessoas enfrentam os perigos provocados pela subida do nível do mar”, alertou.