Este ano, a Autoridade Marítima conta já onze mortes nas praias portuguesasNo ano passado morreram Contando com mortes O dia que marcou o arranque da época balnear ficou logo manchado por quatro mortes nas praias portuguesas. A 1 de Maio, um casal de espanhóis que passeava à beira-mar na Nazaré foi levado por uma onda. Já na Caparica, um homem morreu quando estava com amigos a tomar banho na Praia da Rainha. A norte, na Póvoa do Varzim, uma mulher austríaca de 66 anos foi arrastada por uma onda e acabou por morrer depois de várias tentativas de reanimação.
Histórias como estas repetem-se todos os anos, mas este parece ser especial. “Mais de 30 graus em maio é um fenómeno pouco recorrente”, justifica o comandante Pedro Coelho Dias, da Autoridade Marítima Portuguesa, que lembra um 2016 com meses pré-época balnear mais amenos.
Apesar de pouco esperado para a época, a verdade é que são estas temperaturas que têm levado as pessoas a procurar a praia como escapatória aos dias quentes. O problema é que, na maioria dos casos, os locais ainda estão sem vigilância. A época balnear arrancou dia 1 de Maio, mas apenas algumas praias de Cascais e do Algarve têm nadadores salvadores no areal.
Afogamentos
O caso mais recente de afogamentos nas praias portuguesas deu-se no último domingo. Uma criança desapareceu no mar de São Torpes e o corpo ainda não foi resgatado. Apesar da morte não estar confirmada, as poucas probabilidades de encontrar a criança com vida levam o comandante a incluí-la na lista de onze vítimas deste ano.
Os dados divulgados ao i pela Autoridade Marítima Nacional revelam que a maioria dos acidentes fatais aconteceram antes de Maio, ou seja, antes do arranque oficial da época balnear e que apenas três aconteceram quando as pessoas estavam efetivamente dentro de água. “Estamos perante uma cultura de desatenção”, comenta o comandante, justificando assim que oito das vítimas tenham morrido em duas situações: passeios à beira-mar ou durante a prática de pesca lúdica.
Os números deste ano, apesar de estarem ainda longe de serem os finais, acabam por seguir a tendência do ano passado, altura em que, ainda fora da época balnear, morreram 20 pessoas. “Do total de 29 vítimas, 20 morreram fora da época balnear e dois terços em praias não vigiadas”, acrescenta.
Além de uma desatenção natural da população, a verdade é que a costa portuguesa ainda não está preparada para receber banhistas. “Climatericamente, ainda não é a melhor altura”, refere o comandante da marinha. As praias nacionais ficam muito expostas aos ventos de noroeste, que nesta altura ainda são fortes. Estes ventos, aliados a modelos de circulação oceânicos, levam a uma instabilidade das areias, propícia à criação de agueiros. “A água ganha muita profundidade de uma forma rápida. Daí o número elevado de incidentes que acontecem à beira-mar”, explica. “É por isso que recorremos muitas vezes a um ditado brasileiro que diz que ‘água pelo umbigo, perigo’”, lembra, “e, tendo em conta os últimos casos, água nem pelo pé”.
Época balnear ideal
Existem explicações científicas e até a distração natural do ser humano pode servir de desculpa, mas estes são dados que levantam a questões sobre a calendarização da época balnear, que começa a 1 de Maio e termina a 15 de setembro. “Há quem defenda que deva começar mais cedo, tendo em conta a instabilidade das temperaturas, mas lembro que o início e o fim é sempre estipulado pelas autarquias”, lembra o comandante Pedro Dias.
Cascais e Albufeira são exemplos de concelhos que deram início à época balnear ainda em Maio. No entanto, há até quem comece mais cedo, ou melhor, que nunca dê por terminado este período. O responsável dá o exemplo da praia da Nazaré, que tem sempre nadadores-salvadores presentes nos fins de semana mais quentes. Já em Vila do Conde e Póvoa do Varzim, a vigilância vai além dos períodos fixos e, nos dias mais quentes, a praia é vigiada. “Aliás, os nadadores-salvadores fornecem os números de telemóvel aos banhistas, para que eles os contactem caso queriam entrar na água”, acrescenta o responsável.
Espera-se que o início das épocas oficiais no resto do país sejam anunciadas no início de Junho.
Números globais
As contas da Autoridade Marítima cingem-se às mortes por afogamento na costa portuguesa. No entanto, se alargarmos o espetro a outros cenários o número cresce exponencialmente.
Segundo o Observatório do Afogamento, criado este ano pela Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores, 36 pessoas morreram afogadas entre os dias 1 de Janeiro e 1 de Maio deste ano, metade das quais no mar. Os restantes acidentes ocorreram em rios, poços, tanques de rega, piscinas, valas e marinas e em nenhum dos casos a zona era vigiada.
Na lista das causas determinadas para o afogamento incluem-se pesca lúdica, ritual religioso, tentativa de salvamento de cão, passeio junto ao mar, embriaguez e queda de carro ao rio.