Hoje é dia de o FC Porto se deslocar ao Funchal, capital de uma ilha que tem sido, para os portistas, nos últimos anos, um caso bicudo de atrapalhações em barda. Gosta de dizer o seu treinador, sempre que ataca na véspera do único adversário na luta pelo título, que joga para provocar no Benfica um estado de ansiedade, assim a modos como um ataque de bexigas doidas ou coisa que o valha. É tão verdade como a inversa, vendo bem. Ganhe o dragão na Madeira, ao Marítimo – que ainda tem sonhos europeus – e cola-se à águia no primeiro lugar, com a vantagem que tem na diferença entre golos marcados e sofridos, no caso a forma de desempate que sobra para medir, no final, em caso de igualdade pontual, o melhor dos dois. Mas, como sabemos todos, a vitória é apenas uma das três hipóteses de resultados possíveis. E, deixando-se embaraçar – porque de um embaraço se tratará – por qualquer uma das outras duas, como que entrega, de mão beijada à moda de noiva num altar, o título à rapaziada de Rui Vitória. Assim sendo, só no final da noite saberemos se o Benfica vai a Vila do Conde, defrontar o Rio Ave do excelente Luís Castro, com o bafo do dragão a queimar-lhe o calcanhares ou com a ligeireza de que pode dar ao campeonato um abanão forte e definitivo.
Não é fácil, se calhar nem mesmo possível, antever qual dos dois vai encontrar maiores engulhos. A crítica tem-se atirado ao Benfica como gato a bofe, desancando nas suas exibições assim mais para o fraquinho dos últimos tempos. Encolherão os encarnados os ombros, recordando que se mantêm no poleiro e com a possibilidade de empatarem ainda um dos três jogos que lhes surgem pela frente. Mais ainda, diria: desde a época passada que Rui Vitória é capaz de manter uma liderança sempre questionada, sempre discutida, sempre posta em causa. No caminho para o tri, o aperto até foi bem maior do que é agora. Está na capacidade de resistência da equipa da Luz o segredo do sucesso no tetra. Frente ao_Rio Ave, entra em campo com aquele escaldão de costas que nos aquece sempre que pensamos que tudo depende de nós próprios. Ou quase, neste caso. Também pode depender muito do que o Rio Ave seja capaz de fazer para travar os lisboetas na sua corrida altaneira. Com a certeza de que a margem de erro é cada vez mais curta.