A percentagem de jovens que confessa já se ter magoado de propósito aumentou nos últimos anos em Portugal. Esta problemática é analisada a cada quatro anos no inquérito Health Behaviour in School-aged Children. Em 2014, 20% dos adolescentes inquiridos, do 8.º e do 10.º ano, admitiu já se ter magoado alguma vez, sendo que 4% disseram tê-lo feito mais de quatro vezes nos 12 meses anterior ao estudo. Em 2010, este comportamento era assumido por 15,6% dos jovens.
Os dados reunidos pelo estudo HBSC, que em Portugal é conduzido pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa e pela Faculdade de Motricidade Humana, permitem perceber que 75.8% dos jovens estavam sozinhos quando se magoaram.
Metade dos jovens (51,7%) que confessou este tipo de comportamentos diz ter-se cortado; 27% falam de apertões e 8,8% de queimaduras. Os jovens no 8.º ano, portando na casa dos 13 e 14 anos, parecem estar mais vulneráveis.
Mais de metade dos jovens (62,5%) dizem ter-se magoado nos braços, seguindo-se as pernas (21,5%). A maioria dos jovens confessou que se sentia triste (59%) e farto (52,3%) quando fez mal a si próprio. Mais de um terço dos jovens dizem-se desiludidos, zangados ou nervosos e 27,3% confessaram estar desesperados.
Já este ano, um estudo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, que envolveu 2863 adolescentes do distrito (entre os 12 e 19 anos), apurou resultados idênticos ao do último inquérito nacional: 20% dos jovens já se tinha envolvido em comportamentos autolesivos. A equipa verificou maior incidência nas raparigas, em particular entre os 15 e os 16 anos.
Os dados do HBSC permitem ainda concluir que as autolesões, embora estejam longe de afetar a maioria dos jovens, são hoje um comportamento até mais frequente do que estarem envolvidos em lutas com amigos ou conhecidos. Por exemplo no 8.º ano, 17,5% dos jovens confessou ter lutado com alguém no ano anterior ao inquérito, quando 22,2% assume comportamentos de automutilação (pelo menos uma vez no mesmo período).
Jorge Humberto Costa, psicólogo escolar, defendeu ao i que este comportamento exige maior atenção, para que possa ser despistado precocemente. «As automutilações são um flagelo que temos nas escolas», afirma o perito. Na maioria das situações que tem acompanhado, adianta, não existe uma intenção de pôr a vida em perigo. Mas o comportamento acaba por tornar-se recorrente. «O problema é que é um comportamento progressivo e como percecionam bem-estar acabam por ir fazendo com mais frequência. O perigo é mais por aí, até porque depois acaba por ser a primeira resposta que têm quando são confrontados com uma situação problemática. É quase uma resposta primária».
O problema das automutilações entre jovens tem vindo a ser estudado e nem sempre está ligado a intenções suicidas, mas são consideradas uma forma de alerta para dificuldades em lidar com frustrações e necessidade de apoio psicológico. Ainda assim, alguns casos podem, mesmo acidentalmente, revelar-se fatais.
Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, em 2015 Portugal registou 31 casos de suicídio até aos 24 anos de idade.
O número aumentou nos últimos anos. Em 2013, registaram-se 20 casos e, em 2014, 28. Estima-se que, em 90% dos casos suicídios, esteja presente um diagnóstico de depressão e até haja pedidos de ajuda recentes. A nível mundial, o suicídio é das principais causas de morte entre adolescentes.