Marine Le Pen é de extrema- -esquerda


Como? Pois é. Longe vão os tempos em que o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie, defendia a redução dos impostos e a eliminação das 35 horas de trabalho semanais, recusava a reforma aos 60 anos de idade e queria uma França desregulamentada, desestatizada e sem muçulmanos. 


A Frente Nacional liderada por Marine Le Pen mudou porque a essência do discurso deste partido extremista passou da direita para a esquerda. Enquanto Jean-Marie era essencialmente racista, Marine é antieuropeia.

Do programa eleitoral de Marine Le Pen constam propostas como o aumento do salário mínimo, a redução das tarifas de gás e eletricidade, o aumento dos salários da função pública, a reindustrialização da França (muito à semelhança do PCP) e a fixação da idade da reforma nos 60 anos com 40 anos de quotizações.

Visto deste prisma, não é difícil compreender por que motivo Jean-Luc Mélenchon, o líder da França Insubmissa, aliança política que une vários partidos de extrema-esquerda, entre os quais o Partido Comunista Francês, não disse em quem vota na segunda volta. Mélenchon sabe que o seu eleitorado se revê no programa económico de Le Pen e não o quer trair. Mais: sabe que uma vitória de Marine Le Pen ditará o fim do euro e do projeto europeu, ou seja, dos alicerces que sustentam o modo de vida do continente. Com Marine virá o caos e é no caos que vingam as ideologias como as que Mélenchon propugna. O melhor para a extrema-esquerda é a vitória de um extremismo disfarçado de direita. 

Advogado
Escreve à quinta-feira