As eleições francesas constituem um terramoto político sem precedentes naquele país. Nem as eleições de 2002, em que Jean-Marie Le Pen passou à segunda volta, deixando para trás o socialista Lionel Jospin, corresponderam a algo semelhante. Efectivamente nessa altura havia um candidato do establishment, Jacques Chirac, que foi facilmente eleito. Neste momento, os partidos tradicionais estão reduzidos a pouco mais de 26%, que é a soma dos votos do republicano François Fillon e do socialista Benoit Hamon, sendo que nenhum dos dois passou à segunda volta.
A esta têm acesso Marine Le Pen e Emmanuel Macron. Em relação a Marine Le Pen, esta conseguiu ultrapassar a barreira dos 20% e embora a denominada frente republicana já se tenha unido contra ela, é manifesto que vai ser cada vez mais difícil ignorar o voto de descontentamento que a mesma polariza. Não deve chegar para ganhar a eleição presidencial, mas é um sinal preocupante para o futuro.
O provável vencedor da segunda volta será Emmanuel Macron mas a sua provável vitória não elide as extraordinárias dificuldades políticas que irá enfrentar. Macron, embora tenha sido Ministro da Economia de Hollande, aparece como um outsider em relação aos partidos tradicionais, que agora o apoiam apenas para travar Le Pen. Mas estes partidos não estão em condições de lhe dar grande apoio, uma vez que os republicanos foram derrotados e os socialistas implodiram mesmo. Pelo contrário Marine Le Pen possui neste momento um partido pujante, disposto a colocar o Frexit na agenda política. E somando os votos de Melénchon, os opositores à União Europeia já têm presentemente 41% dos votos. Depois do Reino Unido, a União Europeia está neste momento em questão também em França e os tempos não se afiguram nada fáceis.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Escreve à terça-feira