“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.” Dei por mim a pensar na frase de Albert Einstein e não hesito em concluir que o futebol está um lugar perigoso.
Em Portugal e no resto do mundo. Estranha sensação esta de vivermos num tempo onde a razão nem sempre conhece as razões de tanta irracionalidade e em que a emoção deu lugar ao medo e à insegurança.
Os acontecimentos mais recentes – com agressões físicas; cânticos e silvos inqualificáveis; com bombas e tumultos que até já atingem jogadores em pleno relvado – chegaram a níveis inaceitáveis e colocam um enorme ponto de interrogação sobre o que mais irá acontecer… Estamos, pois, perante uma realidade que obriga aqueles que observam o fenómeno desportivo a não deixar o mal acontecer. Em vésperas de um dérbi, que traz à flor da pele a mais espontânea das sensações, é bom que o coração não esteja ao pé da boca e que as palavras sejam escolhidas com a mesma astúcia dos onzes que vão subir ao relvado.
Mais do que as queixinhas e a defesa intransigente do indefensável, aconselha o bom senso que a estratégia não passe pelo ataque desenfreado mas sim por uma boa organização coletiva do ambiente fora das quatro linhas, com posse e gestão equilibrada dos discursos.
O futebol está, de facto, um lugar perigoso. Um mundo estranho, cuja subversão de valores parece caminhar no sentido de transformar o maior espetáculo do mundo numa espécie de… vale tudo. Mas não, não vale tudo. Ainda sou daqueles que acreditam que, no futebol, os bons são capazes de vencer os maus; os mais dotados são reconhecidos pelos seus méritos; os ídolos nem sempre têm pés de barro. Pode parecer estranho, mas também reconheço que esse não é o mundo perfeito para muitos dos que andam no futebol.
O que é manifestamente perigoso.