A oportunidade perdida do Governo Português


Durante a campanha para as legislativas, apontando várias vezes os desequilíbrios e assimetrias de poder na Europa, exaltando o imperativo de refundar o projeto europeu, o PS propôs-se defender os interesses portugueses com uma voz mais grossa, em Bruxelas, prometendo também, caso vencesse as eleições, uma menor submissão portuguesa na Europa.


Também o programa socialista, em particular o Capítulo III, prometia “novos impulsos”, “reequilíbrios económicos e sociais”, correção de “assimetrias”, etc. E eis que, aquela que era apenas uma promessa eleitoral de uma esquerda cheia de brio pela pátria, finalmente se materializa: diante de câmaras e flashs, o governo fez-se representar por um secretário de Estado que, a transbordar de testosterona política, enche o peito de furor patriótico para manifestar a tal voz grossa portuguesa ao ministro das finanças holandês – “aquele-cujo-nome-não-se-pronuncia” – na sequência de uma polémica já muito glosada.

Mas a oportunidade socialista de liderar os destinos europeus, refundar as políticas financeiras do Eurogrupo e pôr na ordem os países do Norte, não se esgotou neste momento televisivo de glamour para consumo interno: o ministro das Finanças português era então sondado para substituir aquele que tem sido tratado, de forma bastante grosseira, como o Lord Voldemort das finanças europeias.

As condições pareciam estar a ser criadas para que Centeno fizesse valer a posição socialista, para partilhar a fórmula mágica que tem vindo a implementar em Portugal, para reverter o “fanatismo ideológico” e austeritário e defender, na Europa, uma política menos penalizadora da economia e do tecido social. Enfim, para liderar o programa de “reformas estruturais” diferentes que se propôs aquando da campanha.

É por isso surpreendente que o PS não queira aproveitar esta oportunidade argumentando que a liderança do Eurogrupo não está nas prioridades do governo. Pelo contrário, dessa cartilha de prioridades parece estar o apoio ao ministro das Finanças espanhol, Luís de Guindos que, em 2013, em entrevista ao “Financial Times” enaltecia a qualidade das políticas implementadas na Zona Euro. Este apoio a Guindos, um defensor da austeridade nos anos de crise e das políticas adotadas pela Europa, o ministro que implementou cortes substanciais na despesa espanhola para reduzir o défice, amplamente criticado pela esquerda espanhola, indicia que o PS ultrapassou o espasmo patriótico e ocasional de outrora, deixando escapar a oportunidade de demonstrar e de dinamizar, ao nível europeu, a ‘alternativa’ à austeridade que tem vindo a implementar por cá.

Blogger. Escreve à terça-feira


A oportunidade perdida do Governo Português


Durante a campanha para as legislativas, apontando várias vezes os desequilíbrios e assimetrias de poder na Europa, exaltando o imperativo de refundar o projeto europeu, o PS propôs-se defender os interesses portugueses com uma voz mais grossa, em Bruxelas, prometendo também, caso vencesse as eleições, uma menor submissão portuguesa na Europa.


Também o programa socialista, em particular o Capítulo III, prometia “novos impulsos”, “reequilíbrios económicos e sociais”, correção de “assimetrias”, etc. E eis que, aquela que era apenas uma promessa eleitoral de uma esquerda cheia de brio pela pátria, finalmente se materializa: diante de câmaras e flashs, o governo fez-se representar por um secretário de Estado que, a transbordar de testosterona política, enche o peito de furor patriótico para manifestar a tal voz grossa portuguesa ao ministro das finanças holandês – “aquele-cujo-nome-não-se-pronuncia” – na sequência de uma polémica já muito glosada.

Mas a oportunidade socialista de liderar os destinos europeus, refundar as políticas financeiras do Eurogrupo e pôr na ordem os países do Norte, não se esgotou neste momento televisivo de glamour para consumo interno: o ministro das Finanças português era então sondado para substituir aquele que tem sido tratado, de forma bastante grosseira, como o Lord Voldemort das finanças europeias.

As condições pareciam estar a ser criadas para que Centeno fizesse valer a posição socialista, para partilhar a fórmula mágica que tem vindo a implementar em Portugal, para reverter o “fanatismo ideológico” e austeritário e defender, na Europa, uma política menos penalizadora da economia e do tecido social. Enfim, para liderar o programa de “reformas estruturais” diferentes que se propôs aquando da campanha.

É por isso surpreendente que o PS não queira aproveitar esta oportunidade argumentando que a liderança do Eurogrupo não está nas prioridades do governo. Pelo contrário, dessa cartilha de prioridades parece estar o apoio ao ministro das Finanças espanhol, Luís de Guindos que, em 2013, em entrevista ao “Financial Times” enaltecia a qualidade das políticas implementadas na Zona Euro. Este apoio a Guindos, um defensor da austeridade nos anos de crise e das políticas adotadas pela Europa, o ministro que implementou cortes substanciais na despesa espanhola para reduzir o défice, amplamente criticado pela esquerda espanhola, indicia que o PS ultrapassou o espasmo patriótico e ocasional de outrora, deixando escapar a oportunidade de demonstrar e de dinamizar, ao nível europeu, a ‘alternativa’ à austeridade que tem vindo a implementar por cá.

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