As primárias são o processo de escolha dos candidatos a eleições nacionais (presidenciais, legislativas ou autárquicas) através do sufrágio dos militantes e simples simpatizantes dessas forças políticas.
Tem-se vulgarizado na política europeia dos últimos anos, sobretudo em partidos socialistas (como o francês e o espanhol). Também o Partido Democrático, em Itália, e o PASOK, na Grécia, elegem os seus candidatos recorrendo a eleições primárias.
Nos Estados Unidos existe uma tradição mais antiga, que se foi enraizando ao longo do século XX, de designação de candidatos à Presidência através de um complexo processo de primárias com regras que variam conforme os Estados.
Em Portugal, o primeiro partido com representação parlamentar a optar por primárias abertas para escolher o líder foi o PS, em 2014, com António Costa a derrotar o secretário-geral em funções, António José Seguro.
Existe, porém, uma diferença considerável entre eleições diretas e eleições primárias. No primeiro caso (diretas), trata-se de um processo de escolha dos dirigentes máximos de partidos e, portanto, restrito aos militantes.
No segundo caso (primárias) trata-se de um processo de escolha de candidatos a eleições nacionais através do sufrágio dos militantes, mas também de simpatizantes dessas forças políticas. Estes simpatizantes são escolhidos em conformidade com critérios internos definidos pelos partidos que adotam esta fórmula.
Atualmente no nosso País tanto PSD como PS elegem os seus líderes em eleições diretas, no entanto o PSD ainda não reconheceu a necessidade de aderir ao processo de eleições primárias para a escolha do seu candidato a primeiro-ministro.
É, porém, tempo de começar a pensar nessa hipótese ou solução. Numa altura em que as sondagens revelam um afastamento do eleitorado e principalmente numa fase em que é necessário voltar a falar para as pessoas dando-lhes esperança e apresentando uma alternativa, a solução é a adoção de uma estratégia de estímulo da cidadania.
Uma estratégia que promova a aproximação dos cidadãos da política permitindo-lhes participar, de facto, nas decisões do maior partido com assento parlamentar. A possibilidade de escolha de um candidato a primeiro-ministro tem grandes vantagens e enriquece a nossa democracia.
Naturalmente que conta com a resistência de algumas estruturas internas e principalmente daqueles que constituem o “status quo”. Mas quem, realmente, pretende que o PSD se apresente como uma alternativa ganhadora deve desejar que se possa atrair o máximo de eleitores possíveis.
Esta é uma reflexão que deve começar a ser feita dentro do PSD, sem tabus e com a coragem de quem quer ver o PSD voltar a dirigir os destinos do País. O sectarismo, que cria limitações e barreiras à abertura à sociedade civil, pode ser o maior inimigo desta reforma.
No entanto a evolução do PSD deve ser encarada como um processo dialético de crescimento que pode perfeitamente conviver com as estruturas do partido, assim queiram evoluir, crescer e ser mais abrangentes.
O atual PSD, não pondo em causa nem os valores nem a sua matriz social democrata, deve perceber o sentido do conceito de “realpolitik” que significa a adequação da política à realidade, com o pragmatismo estratégico de quem tem como prioridade a eficácia dos seus atos.
No caso da inclusão das primárias no PSD é fundamental refletir e debater esta possibilidade para poder crescer de novo e aproximar os cidadãos da política e do partido. O futuro é algo que não devemos temer. O futuro, pode até ser incerto, mas é inevitável.
Politólogo