Com várias atualizações, começou por ser composto por umas peças em formato de comprimido para, nas versões mais atuais, ter infantaria, artilharia e cavalaria ao estilo dos (sempre memoráveis) bonecos Airfix.
Eu, se fosse o Guterres, mandava embrulhar uns quantos e enviava para a Casa Branca porque me quer parecer que, por um lado, a testosterona de Trump precisa de um escape que não perturbe a paz mundial e, por outro, poderia aprender alguma coisa sobre equilíbrio de poderes e multilateralismo.
Há 14 anos atrás, mais precisamente a 5 de fevereiro de 2003, Colin Powell, então secretário de Estado dos EUA, apresentava no Conselho de Segurança das NU provas irrefutáveis da existência de armas de destruição massiva no Iraque. O que depois se seguiu, já sabemos. O que ficou por confirmar foi a irrefutabilidade das provas apresentadas.
Hoje temos um Iraque desmembrado, destabilizado, em contínua produção de vítimas de atentados e violência, sem qualquer sinal de um Estado democrático.
Pois, volvidos 14 anos, a história repete-se. Trump ordena um ataque unilateral à Síria depois de Nikki Haley, a embaixadora dos EUA nas NU, apresentar fotos das vítimas do suposto ataque químico e rematar, num discurso comovente, com: “Quantas crianças têm de morrer para que a Rússia se importe? Quando a ONU falha frequentemente no dever de agir pelo coletivo, há alturas em que os Estados têm de agir sós.”
Não contente com esta iniciativa, Trump ainda ordenou o envio do grupo naval de ataque comandado pelo porta-aviões Carl Vinson para o largo da costa da Coreia do Norte. Faz-me lembrar algumas estratégias que usava quando jogava Risco e que se baseavam em fazer movimentos em locais opostos do mapa para baralhar os adversários.
E o mundo, perante as ininterruptas barbaridades que Trump vai colecionando, o que faz? Nada! Parece adormecido. Exceção seja feita ao embaixador boliviano junto das NU, Sacha Llorenti, que na reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre o ataque dos Estados Unidos à Síria fez um duro e brilhante discurso, desmoralizando os argumentos apresentados pelos EUA e dando precisamente como exemplo o episódio Powell de há 14 anos. Estranhamente, não passou nos grandes canais de media. Provavelmente seria classificado como “fake news” por Trump. Mas não foi. Foi brilhante e deveria ser visto por todos em vez de assobiarmos para o lado! (basta googlar “Bolivia en la ONU por el ataque a Siria”).
Se poucas dúvidas tinha, nenhumas me restam agora. Trump é uma ameaça à paz e ao equilíbrio mundial, focado numa agenda muito pessoal que, perante o alheamento geral das pessoas e o compadrio de alguns líderes mundiais, vai gerindo a seu bel-prazer.
Hoje mais do que nunca devemos tomar posições, devemos manifestarmo-nos e combater o que se vai, cada vez mais, assumindo como um despotismo cego e centrado no interesse pessoal (e não nacional) de Trump.
O mundo não é um tabuleiro de Risco!
Escreve às quintas-feiras