Saúde. É possível curar uma fobia?

Saúde. É possível curar uma fobia?


Madalena Lobo, da Oficina da Psicologia, explicou ao i quais as categorias existentes e como são feitos os tratamentos deste problema 


A maioria não consegue explicar o que sente. É uma sensação de nojo, um ataque de pânico, uma ansiedade inexplicável. As fobias são difíceis de descrever. Muitas pessoas não sabem quais as causas por detrás desse medo intenso e irracional que as obriga a mudar o seu dia-a-dia e a adaptarem-se a essa condicionante.

“As pessoas (e animais) podem desenvolver uma reação fóbica a qualquer coisa”, explicou ao i Madalena Lobo, membro da Oficina da Psicologia. A psicóloga afirma que existem diversas situações que partilham esta definição de “medo intenso e irracional”, mas que não são uma fobia específica – “pertencem a quadros mais complexos e vastos, normalmente na categoria das perturbações ansiosas”. É o caso da perturbação agorafóbica, ou seja, o medo de estar numa situação de onde seja difícil sair em caso de necessidade. Só se se tratar de uma reação isolada (como, por exemplo, medo de ficar preso no trânsito) é que se considera uma fobia específica.

Uma das principais características de uma pessoa que tenha uma fobia é o facto de estar sempre a tentar evitar aquilo que lhe causa medo, mesmo que isso implique ter de alterar as suas rotinas. 

Segundo as informações dadas por Madalena Lobo ao i, 75% das pessoas com uma fobia específica têm pelo menos mais uma. Para além disso, a especialista afirma que as mulheres sofrem mais de fobias. “Quem é fóbico a qualquer coisa evita-a ativamente e isto pode ser bastante perturbador do normal funcionamento de vida ou não”, dependendo dos contextos em que se viva – uma pessoa que tenha fobia de cavalos, se viver na cidade, sentir-se-á pouco afetada no seu dia-a-dia, por exemplo.

“Noutras circunstâncias, o evitamento ativo, ao longo de anos, está já a um nível tão automático na vida de quem tem uma fobia que aquilo que provoca medo já não gera qualquer ansiedade, mas está a criar limitações indiretas à vida em geral. Por exemplo, alguém com uma fobia de voo, que se foi habituando a nunca viajar, em férias ou por compromissos profissionais e académicos, evita o medo intenso que o facto de estar num avião lhe provoca, pelo que a ansiedade não a perturba, mas perde oportunidades que poderiam ser importantes e que acabam por já nem ser equacionadas”, explicou Madalena Lobo ao i.

Categorias

As fobias estão categorizadas de acordo com os estímulos que as provocam. As fobias a animais – algumas pessoas têm um medo irracional de insetos, aranhas, gatos ou pássaros – são das mais conhecidas, mas existem outros grupos.

Segundo Madalena Lobo, existem fobias a elementos do meio ambiente natural (como trovoada, água e alturas) e a sangue e injeções (que incluem procedimentos médicos invasivos, como colonoscopias). “Nesta categoria é importante salientar que há uma reação do organismo um pouco diferente da reação ativadora do sistema nervoso das outras – é frequente que exista uma resposta vasovagal, em que as pessoas sentem perda de energia ou chegam mesmo a desmaiar”, afirma.

A psicóloga diz que existem também fobias situacionais (como a aviões ou elevadores) e fobias incluídas na secção “outras”, que abrange as mais variadas situações que não podem ser incluídas nas outras categorias.

Causas e tratamentos

Cada fobia tem a sua origem mas, para a maioria dos problemas, não se consegue encontrar uma causa específica. “Algumas desenvolvem–se depois de um acontecimento traumático ou depois de um período de intensa cobertura mediática a propósito de um qualquer tema (queda de aviões, uma doença, etc.). Normalmente desenvolvem–se na infância, antes dos dez anos, e quando se mantêm até à idade adulta é muito pouco provável que desapareçam por si só, sem qualquer intervenção psicoterapêutica”, disse ao i Madalena Lobo.

Em relação a tratamentos, a psicóloga da Oficina da Psicologia afirma que estes são dos que têm melhores taxas de eficácia em psicologia clínica. “As diretrizes científicas que orientam os processos de intervenção são claras e estão bem estudadas. Há alguma variação, consoante a idade (criança ou adulto) e a categoria da fobia, e ainda a sua origem (genericamente traumática ou não), além das necessárias adaptações que são sempre feitas de acordo com as características muito individuais de quem recorre a psicoterapia, porque cada caso requer sempre um ajuste individual”, explicou.

Mas há que ter em conta um componente pouco simpático para quem sofre de uma fobia, e sem o qual, segundo Madalena Lobo, não se obtêm bons resultados: a exposição ao objeto fóbico.

“Mais cedo ou mais tarde, no plano de intervenção, de uma forma ou de outra (com uma estrutura mais ou menos progressiva, começando por uma exposição imaginada ou partindo logo para uma exposição ao vivo), o certo é que nenhum tratamento chega a bom porto se não houver uma exposição da pessoa ao objeto do seu medo. Quando se explica esta parte parece sempre mais assustador do que é porque, felizmente, os psicólogos contam com diversas técnicas que permitem um conforto muito significativo dos seus clientes ao longo deste processo”, garante a especialista.