Está fechado: Benfica e Vitória de Guimarães irão discutir a 77ª final da Taça de Portugal. Um dia depois dos vimaranenses terem conseguido o apuramento, num jogo de loucos em Chaves (derrota por 3-1, com um penálti defendido por Douglas a juntar-se aos 2-0 da primeira mão), foi a vez das águias confirmarem a presença no Jamor, em mais um épico de futebol, a que nem o 3-3 final faz jus. Honra ao Estoril, ao Chaves e a todas as equipas que teimam em praticar um futebol positivo e dar boa imagem ao desporto-rei em Portugal.
A tarefa foi bem mais difícil do que certamente os benfiquistas previam à partida – principalmente pela vantagem trazida da primeira mão (2-1). Trabalhando em cima desse resultado, Rui Vitória mudou quase toda a equipa em relação ao clássico do último sábado, com o FC Porto – só Lindelof, Samaris e Rafa se mantiveram no onze. Fejsa, ainda condicionado, voltou a nem ir ao banco, ao contrário do que o treinador encarnado havia deixado entender na véspera.
Mas mais surpresas estavam reservadas por Vitória. Desde logo, a presença de Grimaldo, pela primeira vez desde 1 de novembro, quando se lesionou frente ao Dínamo Kiev, para a Liga dos Campeões; depois, a ausência de ponta de lança – cenário pouco visto, se não inédito. Sem Mitroglou, poupado, e Raúl Jiménez, lesionado, o técnico das águias optou por deixar Jonas e Jovic no banco, escalonando um ataque híbrido, com Carrillo e Cervi a partir das alas e Zivkovic e Rafa mais adiantados.
E pertenceu mesmo ao antigo jogador do Braga a primeira grande oportunidade do encontro. Aos 14 minutos, numa arrancada estonteante pela zona central, Rafa ultrapassou a oposição de Dankler e ficou cara a cara com o guardião Luís Ribeiro. Na hora da decisão, porém, o internacional português foi… igual a si próprio: atirou à figura do guarda-redes do Estoril, que voltou a defender a segunda tentativa.
Até que, aos 31’, surgiu o primeiro balde de água fria para as hostes encarnadas. Do nada, Bruno Gomes inventou um golo extraordinário, rematando de fora da área de forma indefensável para Júlio César – o pormenor da bola bater com estrondo no poste e depois entrar ainda conferiu maior beleza ao lance.
Durou pouco, todavia, a festa estorilista. E por culpa de Luís Ribeiro, que ao tentar socar uma bola aparentemente simples, na sequência de um canto para o Benfica, a deixou à mercê dos jogadores encarnados que ocupavam a pequena área naquele lance. Sobrou para Samaris, que tocou para Carrillo fuzilar: 1-1.
Mais emoção até ao intervalo? Claro, pois então. A três minutos dos 45, um livre à entrada da área encarnada foi a ocasião ideal para Eduardo testar os reflexos de Júlio César. O guardião internacional brasileiro respondeu à altura, voando para evitar novo amargo de boca.
esteve tão perto…
Lembram-se do amargo de boca evitado há três linhas? Pois é: aconteceu à mesma. Apito do árbitro, bola na defesa do Benfica, um passe estapafúrdio de André Almeida para o meio dos centrais e Bruno Gomes assiste Carlinhos, que fatura na primeira vez que toca na bola. Já havia pânico na Luz…
As águias passam então para o ataque, e é quase por milagre que Luís Ribeiro evita o golo de Zivkovic e outro de Cervi no espaço de dois minutos. Na jogada imediatamente a seguir, é Bruno Gomes que falha por milímetros o terceiro golo estorilista. Suores frios para o Benfica – mas havia em campo muitos, muitos jogadores capazes de fazer magia. De um lado e do outro.
Primeiro (54’), Zivkovic. Descaído para a direita, na quina da área, o sérvio sacou de uma obra de arte para abrilhantar a estreia a marcar de águia ao peito. Depois (62’)… adivinhou, caro leitor: outra vez Zivkovic, que com um passe de antologia isolou Carrillo. O peruano tentou o chapéu sobre Luís Ribeiro, mas a bola resolveu beijar a trave e voltar para trás.
Só que, por esta altura, um golo colocava a equipa da Linha na frente da eliminatória e obrigava o Benfica a ter de marcar mais dois. E esteve perto, tão perto de acontecer aos 65’, quando Júlio César resolveu vestir a capa de salvador encarnado, negando quase por instinto dois golos “feitos” a Carlinhos e Bruno Gomes.
Tremideira na Luz, crença enorme nos homens de amarelo… mas faltava Jonas. Que entrou aos 69’, para o lugar de Rafa, e teve impacto instantâneo: após bela jogada entre Cervi e Zivkovic, um passe de trivela do argentino isola o avançado recém-entrado, que com um toque de classe bate Luís Ribeiro.
Os adeptos encarnados já podiam descansar… ou não. Claro que não. É que o Estoril nunca desistiu, e nove minutos depois voltou a empatar, com Bruno Gomes completamente sozinho no centro da pequena área a finalizar após cruzamento de Matheus Índio. Faltava um golo – apenas um golo. Que esteve muito, muito perto de acontecer a dois minutos dos 90, quando Kléber cabeceou contra as costas de Samaris. A fase final do encontro teve Estoril com a bola, assobios das bancadas encarnadas e o Benfica a guardar a bola junto à linha de fundo. Para a história fica mais um enorme jogo de futebol e o Benfica no Jamor.