Eufrosina Santa María, vice-ministra de Agricultura do Peru, cometeu dois pecados capitais para um político. Foi apanhada a tomar um banho de sol em horário de trabalho enquanto a norte e no centro do país as chuvas procuziam o caos, impondo uma luta pela sobrevivência a muitas pessoas, com inundações e avalanches a provocarem 90 mortes desde janeiro. O outro pecado fica para os olhos descortinarem nas imagens, lá em baixo.
Estas foram divulgadas no domingo à noite pelo programa "Panorama", da rede local Panamericana Televisión, e nelas a vice-ministra foi apanhada num flagrante luxo durante as horas do expediente, julgando-se a salvo de olhos curiosos num clube privado de Lima, com o sol a massajar os ricos à beira da piscina. Santa María estava lá com o companheiro, que é o seu fotógrafo oficial. As imagens não caíram bem junto da opinião pública, especialmente porque os restantes ministros e os seus gabinetes faziam os possíveis para amarrar as pontas, distribuindo-se pelo país de forma a responder no local às emergências.
A cargo do vice-ministério de Desenvolvimento e Infraestrutura Agrária e Irrigação, a vice-ministra teve o azar de viver um tórrido romance num período difícil, mas decidiu fazer como manda tanta literatura, e foi aonde a mandou o coração. Assim, além dos banhos de sol, foi filmada a passear de bicicleta e a patinar perto da sua residência com o namorado fotógrafo, também em horário de trabalho. Para estragar tudo, estas imagens foram capatadas justamente quando as fortes chuvas causaram inundações, rios transbordaram, estradas foram cortadas e muitas localidades ficaram isoladas.
Desde dezembro, o Peru atravessa uma situação dramática devido às condições climatéricas, tendo esta sido agravada pelo fenómeno do El Niño no litoral, que ocorre quando o aquecimento do Oceano Pacífico provoca chuvas, inundações e deslizamentos em toda a costa do país, principalmente no norte e no centro. Até ao momento, além dos mortos, há 20 desaparecidos e 347 pessoas feridas. Em todo o país mais de 740 mil pessoas foram afetadas.
No sábado, antes ainda de ter ido para o ar a reportagem do "Panorama", uma resolução governamental aceitou a renúncia de Santa María do Ministério da Agricultura e Irrigação. O escândalo tinha estoirado na sequência da difusão nos últimos dias de excertos da peça. Na carta de renúncia, publicada por meios locais, a já ex-vice-ministra lamentou ver-se afastada do cargo “nesses momentos difíceis para o país”, mas explicou que não queria “prejudicar a imagem do ministério”.
Contudo, não evitou a humilhação e, mesmo tendo oficializado a renúncia, o presidente, Pedro Pablo Kuczynski, quis exprimir ecoar a indignação das ruas, e garantiu esta segunda-feira que Santa María não tinha saído por sua vontade, mas fora demitida: “É preciso se dedicar a trabalhar, se alguém está no Governo é para trabalhar. Ela foi demitida”.
“A saída de Santa María responde a uma falta de ética cometida por ela na responsabilidade que tinha no citado vice-ministério”, explicou o Ministério de Agricultura em comunicado.
“Nós não trabalhamos oito horas nem 14 horas”, arguiu Santa María em declarações ao jornal "Correo", lembrando que os membros do governo gozam de isenção de horário. “No momento em que uma pessoa goza um momento light, dedica-se a si mesma também. Outras autoridades estão a arranjar as unhas, a fazer o cabelo. Eu estava a praticar desporto”.
Entretanto, o governo instruiu os procuradores a abrirem uma investigação para determinar se é necessário pôr em marcha uma ação legal contra Santa María.