Ainda são poucos os estudos sobre depressão feitos em Portugal, pelo menos aqueles que procuram as causas numa fase em que cada vez mais se começa a associar a componente genética à predisposição para desenvolver estados depressivos.
No entanto, o que já existe, e que agrega dados relativos a taxas de suicídio, demências e toma de antidepressivos, não traça o melhor dos cenários. Segundo o relatório Saúde Mental em Números 2015, a taxa de suicídio tem vindo a crescer nos últimos anos e, em 2014, passou para 11,7 por 100 mil habitantes, quando em 2012 e 2013 tinha sido de 10,1 por 100 mil habitantes. No entanto, a DGS relembra que, em 2014, o registo das causas de morte passou a ser feito através de um novo método, sendo 2013 o último ano em que esse registo foi feito com base no certificado médico de óbito registado em papel. Mesmo assim, são números mais que suficientes para preocupar médicos e especialistas. José Henrique Santos lembra que “não é a depressão que mata”, mas “é ela que faz esse caminho”. Aliás, segundo o psicólogo, dentro da área neurológica, é das doenças que mais pode levar ao suicídio.
Como um dos autores do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, José Henrique Santos está à vontade para lançar para a mesa alguns números que dão conta, por exemplo, de que 90% dos suicídios têm como causa uma base psicopatológica depressiva. Ou seja, “a depressão é uma doença que pode matar mais que todas as outras dentro do contexto da saúde mental”, explica. No entanto, o psicólogo avisa que estamos perante uma doença multicausal. “Não podemos dizer que é só por causa da crise, ou só por causa do isolamento. Normalmente, são vários os fatores associados.”
Para o especialista, a complexidade da doença está exatamente nessa componente pluricausal. “São vários os estudos que dizem que dois terços das depressões são orgânicas, ou seja, começam com um desequilíbrio químico, o que nos leva a concluir que um terço têm outras causas, normalmente de nível individual e social, como o viver sozinho, ter um emprego precário, etc.”
Mas nem esta divisão facilita o trabalho de quem quer tratar a doença. “Podia supor-se que, por ser um desequilíbrio químico, facilmente era tratado com medicação, mas as coisas não funcionam assim”, garante. Como analogia, lembra os casos de toxicodependência, com o vício também ele dividido entre a componente física e psíquica. “A parte psíquica é sempre a mais difícil de tratar”, salienta. Nas depressões acontece o mesmo, até porque, “mesmo sob medicação, à qual cada um reage de forma diferente, falta resolver a questão individual e social, associada à personalidade de cada um.”
Mais antidepressivos E já que se fala em medicação, este relatório alerta também para o crescimento constante do consumo de antidepressivos entre 2010 e 2014.
Estes são dados que reforçam o que, em 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revelou: Portugal é o terceiro país do mundo que mais consome antidepressivos, ficando apenas atrás da Islândia e da Austrália. Entre 2000 e 2013, o número de portugueses a consumir este tipo de medicamentos passou de 33 por cada mil para 88 por cada mil.
No mesmo ano, a OCDE concluiu, através de outro estudo, que a resposta dada a estes doentes tem de ser integrada e não pode ser dada de forma isolada, apenas através das autoridades de saúde, pois as consequências da doença abrangem todas as áreas em que o indivíduo está envolvido: social, cultural, familiar e até económica.
Para dar ideia do panorama geral, em 2010, os custos das doenças mentais para a economia portuguesa rondavam os 3,4% do PIB. Mesmo com estes números, Portugal ficava, naquele ano, abaixo da média europeia (3,6%). Ainda sobre 2010, mais de 65% dos trabalhadores com baixa produtividade apresentavam problemas mentais – quatro vezes mais do que a percentagem de trabalhadores com baixa produtividade mas sem nenhuma doença mental associada.
Como identificar uma depressão
Para ser considerada uma depressão, o doente tem de ter tido, nas últimas duas semanas, cinco ou mais destes nove critérios que constam no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:
• Tristeza e irritabilidade durante a maior parte do dia
• Decréscimo de interesse ou prazer nas atividades do dia-a-dia
• Oscilações de peso e no apetite (alteração de mais de 5% do peso corporal num mês)
• Alterações de sono: insónias ou sonolência
• Cansaço e perda de energia
• Sentimento de inutilidade ou de culpa
• Diminuição da capacidade de concentração
• Pensamentos associados à morte ou suicídio
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