Esta coisa da felicidade é luxo de rico. Coisa de gente cagona e nunca de gente cafona porque a felicidade é para quem pode ter bom gosto. Andar de um lado para o outro, com a mala requintada, com a cabeça bem penteada, feliz e a cantar é coisa para gente abençoada. Até enerva, mete nojo, dá vontade de escarrar para o lado e maltratar aqueles palermas que sorriem por tudo e por nada como se não tivessem problemas. Parecem atores que inventam cenas felizes.
Esta coisa da felicidade é luxo de rico. É coisa de gente demasiada bem resolvida, como se a vida fosse fácil, fosse dócil, fosse doce, como se a vida valesse a pena ao ponto de ser gostada. Que gente mal-amanhada que faz isto todos os dias. Estar bem consigo como se fizesse magia, como se fosse possível, como se soubesse bem.
Saber deve saber … mas não deveriam poder mostrar a ninguém.
Esta coisa de felicidade é luxo de rico. É treta de gente que não tem o que fazer, que tem de se entreter e não carrega encargos nem anseios. É gente com tudo, gente fina, gente que não conhece o meu meio. Porque se vivesse onde eu vivo não se ria daquilo que via nem se daria ao aparato de ser feliz. Porque esta coisa de felicidade é luxo de rico. Ou é para gente que tem tempo a mais, que não tem de trabalhar, que tem as contas pagas e amas para os filhos e talvez os filhos nem caguem nas calças! É gente altamente remunerada, que ama e é amada e tem de ser gente que não apanha o metro de manhã. Porque se eu pudesse ir para o trabalho a pé, talvez também fosse feliz.
Esta coisa de felicidade é luxo de rico. E é coisa de gente mentirosa também que diz que a felicidade se pega. Pega como? Se eu que apanho tudo e me constipo só por ver um constipado, nunca apanhei felicidade de ninguém! E olhem que me aproximo de gente bem-disposta, para ver se passa para mim, se me afeta e contamina mas essa gente foge quando me vê. Parece que gente feliz não gosta de gente mal-humorada. Ordinários. Quando eu estiver constipada vou ver se lhes tusso para cima.
Esta coisa de felicidade é luxo de rico e de pessoa burra, também. Quem me dera ver uma nota choruda e assim até eu me ria alto! Essa gente maluca até diz (vê lá tu) que é feliz porque vê o sol! Como se o sol fosse uma novidade! Fartinha de ver o sol estou eu! Acho que até faço alergia e aquilo aleija-me na córnea e bronzeio apenas metade do braço. Mas mais do que o sol é a chuva que me incomoda. Mas isso agora não importa, porque o que conta dizer é que esta coisa de felicidade é luxo de rico. Luxo de gente mimada, que não madruga, nem se magoa. Será que esta malta já sentiu algum tipo de dor? Será que é só “amor, amor” porque não conhecem mais nada?
Deve ter sido essa gente que inventou o Dia Internacional da Felicidade. É para ver se têm mais um dia sem fazer nenhum, um dia para comemorar porque esta gente só anda bem a comer e a dançar.
Dia Internacional da Felicidade…como se fosse preciso lembrar-lhes que são felizes. Que gostam desta coisa de estar vivo. Como se fosse possível implementar esse luxo a toda a gente … Eu não quero, não preciso mas já agora gostava de saber como é que se faz? Tenho de olhar para o sol é isso? E achar graça se um pássaro esvoaçar por cima de mim? E fico quanto tempo com os olhos postos no céu? É que sempre que levo com a claridade, espirro!
Pronto, agora espero a ver se sou feliz. Deve ser assim que se faz. Mas olha que só tenho até às nove horas. Porque depois entro para o trabalho, tenho o dia todo ocupado e já não tenho tempo para essa coisa de ser feliz.
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Escreve à quinta-feira