O (ir)racional


Em História, a memória é tendencialmente curta. 


O ruído dos factos e a presença dos fenómenos conjunturais levam-nos quase sempre a conclusões imediatas de avaliação, em muito condicionadas pelo presente, ainda que as “ideias subterrâneas” (como tão bem ensinava Joaquim Barradas de Carvalho) façam o seu caminho “invisível”, cultural, estrutural, e as sociedades evoluam em determinado sentido, independentemente da espuma dos dias. 

Vivemos tempos de rutura, é certo, tempos de variadas convulsões e mudanças sistémicas, que estão ainda por entender e enquadrar no devir histórico, tal como exige a prudente e recomendável distância dos historiadores. Só que, tal como tantas vezes acontece em História, tornando-a imprevisível em múltiplos momentos conjunturais, e no terreno oposto de qualquer carta astrológica de adivinhação, nem sempre o que é racional se sobrepõe ao irracional e, por isso mesmo também, o papel do acaso sempre assumiu uma relevância por vezes decisiva na saga do género humano. A imprevisibilidade conta, condiciona, e hoje mais ainda, quando é evidente a capacidade adquirida de autodestruição da humanidade.

A 25 de março serão comemorados em Roma os 60 anos da comunidade europeia. Talvez a passagem desses 60 anos possa ser um bom momento de homenagem, reflexão e racionalidade em torno de uma União que desde sempre quis promover a liberdade, a democracia, a cooperação pacífica, o respeito e a solidariedade entre povos e nações. Sim, a memória é curta, mas nunca como agora qualquer idiota pôde ser tão decisivo para o futuro da nossa espécie.