Os tolos


Ao mesmo tempo que escrevo estas linhas decorrem as eleições na Holanda. Quando forem publicadas, já saberemos o resultado do voto, o qual, arrisco, será o de uma estrondosa derrota da extrema-direita.


Mais do que um desejo pessoal, travar o avanço das forças mais radicais (sejam elas de direita ou de esquerda) é uma necessidade incontornável.
Continuamos a dar margem de manobra para que os discursos populistas como os de Wilders ou Le Pen penetrem no eleitorado. Não damos resposta cabal. E não nos esforçamos por desmontar o seu argumentário, expor as verdadeiras intenções dos seus líderes e por que sejam feitas coberturas jornalísticas adequadas.
Continuamos a injetar bola, novelas e reality shows na vida das pessoas, alinhando com uma das principais armas dos movimentos extremistas: fomentar a ignorância.

Estou em Brasília e em apenas 24 horas vi mais informação, opiniões e cobertura sobre as eleições na Holanda do que em toda a semana passada em Portugal. 

A falta de informação aliada à desinformação (esta última uma arma muito apetecível por parte dos populistas) tem permitido que as margens de crescimento dos movimentos extremistas se alarguem. Felizmente, à boca da urna, as pessoas têm mantido algum bom senso. No entanto, a margem cresce e, dentro dela, os resultados efetivos vão crescendo também, e aquilo que era marginal há 17 anos atrás é hoje já bastante expressivo.
Mas e de quem é a culpa? É de todos. É de todos sem exceção.

A culpa é da social-democracia, que não encontra respostas para os problemas atuais e continua de cabeça enterrada na areia. A culpa é dos editores e dos responsáveis pelos meios de comunicação social que definem os conteúdos com base apenas nas audiências, alimentando ignorância e a inércia intelectual. A culpa é dos decisores políticos que se vão aproveitando do alheamento popular para retirar benefícios de curto prazo e potenciar a corrupção. A culpa, em última análise, é nossa. É de cada um de nós que transfere as responsabilidades no momento do voto e não fiscaliza nem se preocupa em estar informado. Só nos preocupamos com festas e bolos.

No meu primeiro ano de estudante universitário, o inesquecível ano de caloiro, tive, por mero acaso, a minha primeira experiência política. Vi-me envolvido numa eleição para a associação de estudantes. Contra todas as expetativas e após várias peripécias, a decisão estava entre a lista dos caloiros, irreverentes e com fome de conhecimento, e a lista que “governava” a associação há vários anos. Foi uma experiência inesquecível e a projeção e o poder que nos deu (a nós, os caloiros) foi interessante. Usámo-la corretamente e acabámos por trabalhar em conjunto com a lista vencedora.
As principais desavenças centravam-se sempre no equilíbrio entre as iniciativas lúdicas e as iniciativas de cariz mais informativo. Não me interpretem mal: era estudante universitário e todas as festas eram uma alegria. Mas reclamávamos mais debates, mais informação. Nunca me esqueci da frase proferida pelo então jovem líder da associação: com festas e bolos se enganam os tolos!