Leis do Poder e Olhar ao Centro


Algumas crónicas deram origem a vinganças, sobretudo da minha área política, de personagens que poucos sabem que convivem muito mal com algumas verdades que incomodam


“Todo o poder é confiança.”

Margaret Thatcher

“As Leis do Poder” chegam ao fim da sua existência com a publicação deste texto e por comum acordo. Ao longo de três anos e três meses de vida, ininterruptamente, submeteram-se ao escrutínio dos leitores e da crítica. Foram tempos em que o rigor, a frontalidade, a coerência, a independência permitiram abordar vários temas da atualidade nacional, europeia e internacional. Sempre com o mesmo objetivo: contribuir no espaço público e no espaço mediático para o debate e a discussão de matérias do foro político, económico, social, cultural e de demais áreas da vida quotidiana e de vários tipos de saberes, sempre com base na liberdade de opinião e na liberdade de informação. Foram cento e oitenta e duas (182) crónicas as publicadas nestes últimos três anos e três meses com as vestes de “As Leis do Poder”. Umas mais consensuais do que outras. Umas mais elogiadas do que outras. Umas mais criticadas do que outras. E algumas que deram origem a vinganças, sobretudo da minha área política, protagonizadas por personagens da vida política nacional que poucos sabem que convivem muito mal com algumas verdades que incomodam.

O autor d’“As Leis do Poder”, é altura de o dizer, sofreu assim várias consequências por não se ter desviado do caminho da independência, do rigor e da frontalidade. Mais do que uma vez. Desde receber telefonemas a cancelar a presença em cerimónia de apresentação de livros da sua autoria, por ter sido inconveniente mas justo na apreciação que fez sobre determinados governantes da época. Bem como ter sido ostracizado e, nalguns casos, até perseguido, no seu partido político, por não vacilar na sua coerência. Aliás, a esse propósito, através d’“As Leis do Poder” entrou no índex negativo dos chamados clippings diários partidários, sendo retirado várias vezes dessas redes de distribuição de informação partidária. Nesse particular, provou e saboreou o que o lápis da censura partidária é capaz de fazer no tempo do Estado de direito.

Mas valeu a pena. Porque são já cerca de mil (1000) crónicas e artigos de opinião, publicados em décadas sucessivas, sempre com a mesma postura. E com os mesmos objetivos. Em vários jornais e revistas.

Porque escrever é uma outra forma de contribuir para uma sólida intervenção não só política, mas sobretudo cívica.

A herança d’“As Leis do Poder” é de todos. Dos leitores (críticos e não críticos) do jornal que lhes deu vida e, modéstia à parte, do seu autor. E irá ficar materializada em dois livros. Provavelmente, ainda este ano. Numa perspetiva nacional. E numa perspetiva internacional, em conjunto com outras abordagens que o seu autor tem feito noutras paragens, que não só através d’“As Leis do Poder”.

Acabam “As Leis do Poder”. Mas vão iniciar-se o “Olhar ao Centro” e outras abordagens, em novas mas próximas paragens. A par da continuidade de outra presença também no espaço mediático. Ou seja, “As Leis do Poder” vão dar lugar ao “Olhar ao Centro”. Em tempos em que a política vive desafios e complexidades muito derivadas da extremização quer à direita, quer à esquerda.

Para terminar. Os agradecimentos aos leitores em geral. Aos que me pressionaram, aos que passaram a perseguir-me, que deixaram de me considerar do seu núcleo próximo (a um ou outro só lhes recordo que, um dia, isso se saberá e que cairão algumas das suas máscaras de defensores da liberdade de informação e de opinião), a todos os diretores e suas equipas mais próximas deste jornal que, nestes três anos e três meses, tiveram de “lidar” com “As Leis do Poder”. A todos sem exceção agradeço e peço desculpa por alguns transtornos. E não seria justo se não fizesse um agradecimento especial a quem me desafiou e convidou pela primeira vez para aqui escrever – Eduardo Oliveira e Silva. Ainda me recordo quando me quis conhecer pessoalmente, em 2014, e me fez o convite. Agradeço-lhe. Sem ele não haveria “As Leis do Poder”. Quanto ao futuro, continuarei a ser um consumidor compulsivo de informação, procurando não confundir informação de qualidade com informatite medíocre e generalista. Valorizando os media e os profissionais que neles trabalham como construtores quotidianos de uma democracia de qualidade. Continuarei a preferir as verdades que incomodam em detrimento das mentiras que encantam, sempre tendo presentes os direitos, liberdades e garantias que são um dos pilares principais do Estado de direito democrático. E, por último, continuarei a ser um acérrimo defensor do papel da comunicação social enquanto instrumento fundamental também para a promoção do nosso desenvolvimento coletivo, de âmbito cultural, social e económico.

Escreve à segunda-feira