O Carnaval permite que sejas o que quiseres. Podes disfarçar-te de corajoso que dá na mesma. Tudo vale e isso é perfeito. Pega na roupa mais brilhante, desfila abraços e frases ensaiadas e diz às pessoas o quanto gostas delas. Ou melhor. Aproveita a desculpa do Carnaval e aparenta ser uma personagem assertiva, daquelas que dão um murro na mesa e se revoltam com a precariedade dos seus dias, que faz a festa porque se cansa da melancolia e que manda confetti para o ar e grita alegrias coloridas! Calça os teus sapatos mais altos, pinta-te como nunca te pintaste, mascara essa tão grande fragilidade e vai lá discutir o ordenado que sabes que mereces. Finge que agora podes.
Pena que este teatro só dure três dias.
O Carnaval permite que sejas o que quiseres. Podes aproveitar e fazer um brilharete. Simula que já não tens medo! Rouba a capa de super-herói ao teu miúdo, pega na espada e zás! Olha tu que até levitas e corres na areia descalço sem medo porque te capacitas de que tudo podes. Que incrível rir cá do fundo, como se achasses tudo possível. Como se fosses um rapazinho de cinco anos que ainda acredita no Pai Natal. Brinca com o teu cão e ri-te com as lambidelas gigantes que te dá! Ri-te por ele morder a tua capa e não te chateies com os pelos que deixa lá depois – lembra-te que és o Zorro e o Batman e o Homem-Aranha, e que eles nunca se afligem com os dramas. Esses ficam sempre bem.
Pena que este teatro só dure três dias.
O Carnaval permite que sejas o que quiseres. Pinta a careca e experimenta várias perucas e aproveita para saíres à rua sem te sentires melindrada. Não interessa se te olham agora, aliás, são olhares divertidos, cúmplices, sem julgamentos, porque no Carnaval não faz mal! O Carnaval usa a arte como cura e o cancro não assusta porque a cabeça está desenhada e passa a ser bonita! Os cobardes já não cochicham e os outros já não limitam! Que sorte assumir o que se está a viver sem receio nenhum. Que sorte rir e dançar na avenida, misturada no meio de todos e deixar de ser A que está doente. Porque, no Carnaval, ser diferente é bom.
Pena que este teatro só dure três dias.
O Carnaval permite que sejas o que quiseres. Toda a gente pode ser o que quiser, mas há gente que só no Carnaval se permite existir. O engraçado é que nos outros dias também há quem se disfarce e normalmente escolhe o fato de homem ou de mulher feliz. Gente que o faz tão bem, acabando por se confundir com o próprio boneco criado, num teatro que dura um bom bocado – qualquer coisa como uma vida inteira.
O Carnaval permite que sejas o que quiseres. Pena que este teatro dure só três dias.
Blogger
Escreve à quinta-feira