Jornalistas de oito meios de comunicação foram impedidos de participar numa conferência de imprensa informal no gabinete do secretário da Imprensa, Sean Spicer, que proibiu a entrada de meios que nas últimas semanas se destacaram publicando notícias prejudiciais para o novo governo, dando acesso, por outro lado, a órgãos mais favoráveis a Donald Trump, como o ultra-conservador portal Breitbart, que já foi comandado por um dos conselheiros mais chegados ao presidente, Steve Bannon.
A conferência de imprensa desta sexta-feira estava agendada como um “press gaggle”, ou seja, um encontro mais informal onde, neste caso, não era permitida a gravação de vídeo, embora todas as declarações pudessem atribuir-se, como de habitual, à Casa Branca. À última da hora, segundo escreve o Poltico, um dos órgãos barrados, Sean Spicer anunciou que o encontro aconteceria no seu gabinete, escolhendo a dedo os órgãos a quem seria permitida entrada, deixando de lado algumas das publicações mais importantes no país e no mundo.
Spicer impediu a entrada de jornalistas do “New York Times”, CNN, “La Times”, o portal Politico, The Hill, Buzzfeed, “Daily Mail” e a emissora britânica BBC, que se viram relegados para a sala tradicional de imprensa, onde o registo sonoro do encontro seria transmitido. Os repórteres da Associated Press e da revista “Time”, em protesto, decidiram não participar no encontro com Sean Spicer.
A decisão acontece poucas horas depois de ter vindo a público que o chefe de pessoal da Casa Branca, Reince Priebus, procurou influenciar os dirigentes do FBI no sentido de estes contestarem em público as investigações que sugerem que altos-responsáveis da campanha de Donald Trump estiveram em contacto com agentes dos serviços secretos russos durante a corrida presidencial, algo revelado há uma semana precisamente pelo “New York Times”, um dos órgãos travados esta sexta-feira.
“Nada disto alguma vez aconteceu na Casa Branca ao longo da nossa longa experiência de cobrir várias administrações de diferentes partidos”, escreveu esta sexta-feira o diretor do “New York Times”, Dean Baquet, em comunicado. “Protestamos com severidade a exclusão do ‘New York Times’ e outros órgãos de comunicação. O acesso livre dos media a um governo transparente é obviamente do crucial interesse público.”
A Casa Branca defende-se dizendo que é habitual nos encontros informais com a imprensa existirem grupos restritos de jornalistas. No entanto, como escrevia esta sexta-feira o Politico, “o convite seletivo a meios conservadores, alguns dos quais têm sido abertamente favoráveis à administração de Trump, não tem precedentes”.
Why Spicer wants hand-picked gaggle: 1) avoid on-camera goof 2) Trump can't watch a gaggle 3) get press to 'whine' 4) sow internal strife
— Glenn Thrush (@GlennThrush) 24 de fevereiro de 2017