Quando Ferro Rodrigues sair hoje do almoço em Belém deverá ter um encontro incómodo com Assunção Cristas que irá ao palácio precisamente para “denunciar” o que considera estar a pôr em causa o normal funcionamento do parlamento.
Segundo o Expresso, o convite para Ferro ir almoçar com Marcelo escassos minutos antes da audiência pedida por Cristas partiu da Presidência. Será a tentativa do Presidente de acalmar um clima cada vez mais tenso entre a direita e o presidente da Assembleia da República, depois de Ferro Rodrigues dizer ao CDS no parlamento que tal audiência em Belém podia pôr em causa a separação de poderes.
Institucionalista, Marcelo Rebelo de Sousa deverá querer evitar essa leitura. Mas será impossível disfarçar aquilo que é já uma guerra aberta entre PSD e CDS, por um lado, e Ferro Rodrigues por outro.
Se dúvidas houvesse de que não é só o CDS que acha que o comportamento de Ferro está a ser parcial, ontem o PSD juntou-se abertamente às críticas.
Primeiro, pela voz de Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas no fim da reunião da bancada parlamentar. “Estamos a assistir neste parlamento a um regresso de um ambiente de claustrofobia democrática, na medida em que por uso e abuso do poder dos deputados que compõem esta maioria se estão a impedir o exercício de direitos que não são oponíveis sequer do ponto de vista legal”, criticou, questionando a imparcialidade de Ferro.
Horas mais tarde, Luís Marques Guedes fez no plenário – onde não estava Ferro – um discurso arrasador para o socialista. Marques Guedes disse que há “conivência ativa do presidente da Assembleia da República” com os “episódios de baixa política, tiques de autoritarismo e totalitarismo” que a maioria de esquerda tem protagonizado na comissão de inquérito à CGD.
“Quem assim age quer reduzir o parlamento a uma câmara de branqueamento dos erros e de encobrimento das responsabilidades na ação governativa”, lançou o deputado, num tom particularmente duro e inusitado por pôr no mesmo plano o presidente da Assembleia da e a maioria de esquerda.