Trump e Costa: semelhanças e diferenças


À partida, a comparação proposta neste título seria um exercício de difícil execução. Porém, nos últimos dias, a realidade, insinuando o seu sucesso, estimulou-me a ensaiá-lo. 


Começando pelas semelhanças, a mais óbvia prende-se com as dúvidas suscitadas a propósito da legitimidade eleitoral de ambos, um argumento amplamente usado pela oposição nos dois países. António Costa porque, obviamente, não venceu as eleições, e Donald Trump porque Hillary Clinton teria sido eleita não fosse o sistema dos colégios eleitorais. Porém, não devemos ignorar a semelhança, mais evidente, de método ou de estratégia.

Refiro-me, por um lado, às sucessivas reversões em relação ao executivo anterior desenvolvidas com intuitos eleitoralistas e ideológicos vincados. Nos dois casos, a política educativa é disso um exemplo. Se, nos EUA, a escolha da magnata Betsi DeVos representa um corte com o passado, por cá, no último fim de semana, tomámos conhecimento dos últimos planos do Ministério da Educação para os curricula escolares, que significam alterações profundas ao programa do anterior ministro, Nuno Crato.

Reduzindo substancialmente a carga horária das disciplinas de Matemática (compreende-se, isso das contas certas não é matéria ensinada por governos socialistas) e de Português, o governo, esse grande moralista e patriarca de todos nós, conta acomodar a ministração da educação cívica que inclui o conhecimento (e prática?) do tema “consciência e domínio do corpo”. Uma outra semelhança entre os dois executivos, viabilizada pela história dos últimos tempos, decorre do episódio da CGD, que consagrou entre nós a doutrina trumpista dos “alternative facts”, recauchutada na pomposa fórmula do “erro de perceção mútuo”.

Mas, dirá o leitor, as diferenças entre Trump e Costa são por demais evidentes, começando, é certo, pela cor do cabelo. Não podia estar mais de acordo. E recorro mais uma vez à realidade recente para apontar um outro exemplo da existência de diferenças: pouco tempo depois de se ter sentado na Casa Branca, o assessor de segurança nacional do presidente americano, Michael T. Flynn, foi forçado a demitir-se quando confrontado com histórias duvidosas e inconsistentes sobre conversas com o embaixador russo. Por cá, o primeiro-ministro e o Presidente da República optaram por segurar um ministro que há vários meses tem alimentado uma narrativa cuja integridade é manifestamente falsa. Mais do que lamentável, tudo isto se assemelha a uma verdadeira trumpada.

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