É legítimo esse desejo, mas menos pertinente será, naturalmente, manter uma insistente pressão sobre a quem caberá emitir o juízo. É uma questão de sensibilidade, de inteligência, e até porque, definitivamente, ninguém é o centro do mundo.
A propósito disso, e salvaguardadas as devidas distâncias, aqui recordo uma saborosíssima história que me contou o Baptista-Bastos, passada na Brasileira do Chiado. Certa tarde, alguém que aqui não referirei entregou a Aquilino Ribeiro uma resma de papel manuscrito e com toda a humildade lhe terá solicitado uma leitura: “Mestre Aquilino, a sua opinião é muito importante para mim e por isso lhe deixo este original.” A verdade é que as boas tardes da Brasileira iam passando e, volta e meia, o autor interpelava o sábio sobre a leitura do dito cujo manuscrito, ao que Aquilino respondia evasivamente, desviando o olhar ou lançando de rompante qualquer outro assunto para cima da mesa. Passaram-se meses, ao que parece, neste tango de avanços e recuos, até que um dia, desesperado, o autor lançou um lancinante “Mestre! Diga-me tudo, por favor, leu ou não leu o meu original?” Ao que o mestre, entediado e com espontânea gravidade no olhar, abre o sobretudo e retira o manuscrito de um bolso interior, como se ali tivesse permanecido todo aquele tempo, disparando à queima--roupa e sem azo a mais assunto: “Não li, não leio e não empresto.” É a vida, pois.
Escreve à terça-feira