Caso CGD. PS protege Presidente contra ataque do dirigente João Galamba

Caso CGD. PS protege Presidente contra ataque do dirigente João Galamba


António Costa e Carlos César não gostaram de ver Galamba atacar Marcelo. O momento é de união


O triângulo que envolve Marcelo-Mário Centeno-António Costa no caso da Caixa Geral de Depósitos é tão complexo e delicado que um dos principais dirigentes do partido, João Galamba, foi ontem desautorizado pelo presidente do partido, Carlos César.

“Tudo aquilo de que é acusado Mário Centeno pode Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República português, ser, ipsis verbis, acusado exatamente da mesma coisa”, disse João Galamba no programa Sem Moderação, do Canal Q e da TSF.

“O que ele tentou fazer, na segunda-feira, político hábil como é, foi tentar demarcar-se disto e tentar desresponsabilizar-se de algo que também é responsabilidade sua”, disse o deputado socialista, explicando-se assim: “Ou os argumentos do governo são que não era preciso isso, porque a lei de 83 era válida e Marcelo Rebelo de Sousa concordou, ou os argumentos do governo eram que era fundamental não entregar [as declarações ao Constitucional] e que o Presidente da República não poderia incluir isso na promulgação”, diz.

Na opinião de João Galamba, o Presidente da República “concordou num sentido ou concordou noutro” e a sua posição terá sido “sempre a mesma que Mário Centeno”. “Portanto, de tudo aquilo que se acusar Mário Centeno acusar-se-á também Marcelo Rebelo de Sousa, porque fez exatamente o mesmo”.

Ontem à noite, na SIC, Galamba diz que acusa o Presidente de estar implicado “no mesmo que Mário Centeno, o que é nada”. “Não há nenhuma razão para acusar o Presidente da República porque não há nada para acusar o ministro Mário Centeno”. Foi desta forma que João Galamba exerceu o “controle de danos” depois de Carlos César, em declarações ao Observador, ter dito que “João Galamba não participa nesse programa como deputado ou porta-voz”.

Ao que o i sabe, tanto António Costa como Carlos César ficaram furiosos com João Galamba – uma das estrelas ascendentes dentro do Partido Socialista – porque a estratégia da direção socialista é proteger ao máximo a relação com o Presidente da República.

Registe-se que o próprio comunicado da segunda-feira em que o Presidente da República dá a entender que Centeno só se mantém em funções por causa do sistema financeiro é elogiado pelo próprio presidente do PS e líder parlamentar, apesar de ter sido muito criticado por socialistas como os deputados Porfírio Silva e Ascenso Simões. César afirma que a mensagem do Presidente “foi coordenada com o senhor primeiro-ministro” e o que retira dela “é solidariedade institucional para com o governo”. Chegou ao ponto de dizer que a nota presidencial lhe causou “grande satisfação”.

PR e PM querem ponto final

Neste momento, a prioridade tanto do Presidente da República como do primeiro-ministro é pôr fim à polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos e dos sms do ministro Mário Centeno. “Ponto final, parágrafo, terminou”, disse ontem o Presidente da República. Quase em uníssono, Costa, ouvido pelos jornalistas noutro local, corroborou: “Já acabou tudo na segunda-feira”.

Entretanto, Lobo Xavier assumiu ontem no programa “Quadratura do Círculo” que não viu nenhuma prova do envolvimento pessoal do primeiro-ministro nas condições acordadas entre Mário Centeno e António Domingues para que este assumisse a liderança da CGD.

O comentador, que é amigo de Domingues e assumiu ter visto sms e outra troca de correspondência que comprova o alegado acordo para isentar o gestor da apresentação de declarações de rendimentos, afirma não ter tido conhecimento de “nenhuma evidência da participação do primeiro-ministro” no referido acordo: “Não tenho elementos para falar especialmente que o primeiro-ministro tenha tratado desse caso em especial”. “O Presidente teve conhecimento sobre as informações que eu tinha através de um contacto pessoal comigo”, diz Lobo Xavier, explicando que só o fez por entender estar na posse de informação relevante e suficiente para atestar junto de Marcelo a tese de que haveria um acordo para isentar Domingues das declarações de rendimentos.

com Margarida Davim