Infelizmente, não tem sido sempre assim. Nos últimos anos, os presidentes têm sido vistos como seres iluminados que deviam vencer a cegueira dos congressistas para que os EUA evoluíssem. Com Obama, esta tendência chegou mesmo a assumir contornos graves, com o presidente a ser encarado como um novo
Messias libertador contra os poderes instalados em Washington. Um pouco como Trump, mas com mais souplesse.
A centralização do poder na pessoa do presidente foi um processo longo, com Andrew Jackson, Lincoln, Teddy Roosevelt, Wilson e FDR a darem o mote. E se antes eram poucos os que, na senda de George Washington, não repetiam o mandato, no pós-guerra só se ficaram por quatro anos os que ou morreram ou foram desastrosos.
Com Trump podemos assistir ao reconhecimento, por parte da população, de como a separação de poderes é importante; que um Congresso forte que reprime decisões não é uma falha da democracia, mas a sua força; e que os tribunais devem exercer devidamente as suas funções. Quem sabe não assistimos a um regresso às origens do sistema norte-americano. Recordar como é importante desconfiar do homem providencial, e restringir, na medida do possível, os poderes do presidente, pode vir a ser o legado de Trump.
Advogado, Escreve à quinta-feira