1) O comunicado emitido pelo Presidente da República para afirmar que aceitava a confiança em Mário Centeno que António Costa mantém tem implícita a palavra só que Marcelo não quis escrever, mas que está lá subliminarmente. O que o Presidente quis dizer é que só “aceitou tal posição (ou seja, a manutenção de Centeno) atendendo (e aqui caberia outro só) ao estrito interesse nacional em termos de estabilidade financeira”. Marcelo foi magnânimo e deixou passar a nódoa comportamental de Centeno, dando por boa a versão que ambos tinham acertado horas antes, segundo a qual nunca foi intenção isentar Domingues e companhia de apresentar rendimentos e património, tendo quando muito havido um mal-entendido. Claro que a versão é pífia. Mas ao pé de comportamentos como o de Maria Luís Albuquerque a respeito do Banif, é comparar um desvio de caramelos por uma criança com um assalto a uma joalharia. Valeu a Centeno o facto de ser aparentemente tão bom técnico como mau ator e político. Oxalá tenha aprendido e contrate gente competente para a sua comunicação, pois foi aí que falhou. Quanto a António Costa, o mínimo é reconhecer que o Presidente lhe salvou o governo, esperando-se que seja a bem da nação, como se dizia no tempo da outra senhora.
2) Com o desmoronamento do plano que levou à criação do BPI nos anos 80 e à consequente compra pelos catalães do La Caixa, quatro dos cinco maiores bancos portugueses passaram a estar em mãos estrangeiras. Certos analistas, financeiros, economistas, políticos e jornalistas acham a nova situação preocupante. Todavia, se forem perguntar aos depositantes dos bancos agora controlados por estrangeiros e aos burlados do BES, do Banif, do BPN, do BPP, da Caixa Faialense, e aos desgraçados dos acionistas do BCP que viram as suas poupanças voarem à conta de manobras merecedoras de cadeia, é provável que eles não tenham essa opinião. É também duvidoso que fiquem assustados se o Novo Banco seguir o mesmo caminho, desde que os compradores sejam banqueiros ou gestores competentes, e não meros especuladores que queiram retalhar o banco.
Para os portugueses sobra a Caixa, que lhes custou muito dinheiro e continua a ser objeto de uma luta política que parece pretender destruí-la, eventualmente para que também passe a privada e estrangeira. Ora, a CGD está finalmente em boas mãos depois de sido violentada e assaltada por certos gestores, alguns dos quais nunca foram responsabilizados por qualquer instância. O que se tem visto no quotidiano político e na suposta comissão de inquérito à CGD é uma tentativa objetiva de destruir ainda mais o valor do único banco público. Patriótico seria os partidos deixarem de brincar com o fogo de forma irresponsável e deixarem Macedo trabalhar.
Quanto à situação geral da nossa banca, é realmente pena que esteja quase toda na mão de estrangeiros, com as exceções da CGD e do Montepio, cuja situação é delicada. É, porém, indispensável reconhecer que a responsabilidade desta transferência geral de propriedade para acionistas de fora é dos banqueiros, dos gestores portugueses do setor e de quem tinha responsabilidades governativas ou de fiscalização e não quis ver o desmoronamento que estava em curso e era noticiado. Quem certamente não tem culpa são os novos donos, os depositantes, os espoliados, os roubados, os vigarizados e os acionistas residentes cá ou emigrantes. A Catalunha ainda não é uma nação independente, mas tem um banco à escala internacional que chegou de rompante e assumiu a gestão do BPI, uma instituição que não deu problemas excessivamente graves aos contribuintes, mas cuja estratégia falhou. A existência de um banco da dimensão do La Caixa é uma forma importante de afirmação catalã. Apesar de ser um país independente, Portugal não conseguiu construir uma entidade comparável sequer à daquela nação de Espanha que luta pela soberania plena. Sabemos pouco de banca e por isso perdemos a nossa quase toda.
3) O artigo da semana passada sobre o aeroporto do Montijo incomodou algumas pessoas e alertou outras relativamente à obra, ao seu financiamento e a eventuais riscos para os bolsos dos contribuintes. Apesar de a solução Montijo dever ser assumida oficialmente hoje, pergunta-se porque não se alarga a utilização no Humberto Delgado a Figo Maduro e não se usa a total disponibilidade de pistas? E, não sendo de facto possível, porque não se usa Alverca como aeroporto complementar, até porque ali já existe rede viária e ferroviária para trazer os passageiros para Lisboa rapidamente, sendo ainda fácil construir uma ligação por carril que faça ligação à Portela? No “Expresso” de sábado, Nicolau Santos referia precisamente a hipótese Alverca. Certos especialistas asseguram que teria vantagens logísticas. Outros, porém, sublinham a existência de constrangimentos no tráfego aéreo por Alverca implicar a utilização dos mesmos corredores que a Portela. Era bom esclarecer todas as opções e condicionalismos antes de começar qualquer obra.
Jornalista