Gosto desde pequeno de separar os amigos dos conhecidos e de não chamar amigo a toda a gente. Não para desconsiderar os que são só conhecidos nem para ter comportamentos diferentes, nada disso; faço-o porque valorizo muito as pessoas que são minhas amigas a sério. E não defino a amizade pelo espaço temporal que ela me ocupa. Tenho amigos que estão longe, tenho quem se tenha afastado e tenha voltado, e tenho conhecidos com quem estou todos os dias.
É por isso que a amizade tem para mim muito daquilo que é o amor também. Exige paciência, respeito, tempo a fazer coisas de que gostamos menos por alguém, honestidade e fidelidade, carinho e atenção. E, da mesma forma que no amor, temos pessoas que julgávamos amar mas era só uma paixão momentânea, aquelas que muitas vezes entram de uma forma repentina e arrebatadora na nossa vida, passamos todo o tempo com elas e tornam-se imensamente próximas de nós, e depois desaparecem da mesma forma passado uns tempos.
Existem ainda os one-night stands ou casos de uma noite, quando numa festa ou num encontro nos identificamos de tal forma com alguém que passamos a noite/dia todo a falar com ela mas depois nunca mais a vemos. Há também as amizades coloridas, quando se é amigo mas também amante, e há ainda aqueles que confundem tudo e não sabem distinguir amizade de paixão, de amor ou de outra coisa qualquer.
Muito daquilo que é o egoísmo nas relações de hoje em dia reflete-se também na amizade. Ninguém está disposto a abdicar de nada e achamos que as pessoas são um ioiô que vai e volta conforme a nossa disposição bipolar. Outros, os abusadores, acham sempre que um amigo, se é amigo, tem de estar disposto a tudo, tem de aturar qualquer coisa e estar sempre ali para limpar a porcaria que fazemos, esquecendo-se de que “quando um não quer, dois não dançam”. Há os que, por falta de confiança, usam o dinheiro para ter “amigos” à volta e também há os amigos que só estão lá para os bons momentos. Também existem aqueles que concordam com tudo e nunca nos dizem que não, mesmo que esteja tudo mal, só para nos agradar, e os que nos dizem sempre que não talvez por sentimento paternal, junto com um pouco de inveja também.
Ainda assim há muitos, felizmente, para quem ser amigo é muito importante, pessoas que esquecem um pouco o orgulho e pedem desculpa quando erram com a mesma facilidade com que conseguem perdoar quando algum amigo erra e pede desculpa. Porque isto da amizade não é uma coisa fácil nem simples. É por isso que, por muitas voltas que possamos dar, ninguém tem na realidade, nem de perto nem de longe, os “amigos” na vida real que tem no Facebook. Exige sacrifício e sangue-frio, altruísmo e cumplicidade. Exige sobretudo a capacidade de não desistirmos à primeira – por vezes, nem à segunda nem à terceira –, estarmos ali, ficarmos ali, às vezes, quando mais ninguém fica. É por isso que frequentemente é a própria vida, as suas circunstâncias e idiossincrasias que acabam por nos escolher as amizades, por muito que teimemos em enganar-nos a nós próprios. Porque os que não são e que nós sabemos que não são acabam por se afastar de nós. Porque os que são estão sempre ali que até irrita, e quando não estão ligam, e quando não ligam estão, e mesmo quando não podem estar, nós sentimos que estão. Porque isto dá trabalho. Porque ser amigo é coisa séria.
Amigo é coisa séria
Muito daquilo que é o egoísmo nas relações de hoje em dia reflete-se também na amizade. Ninguém está disposto a abdicar de nada e achamos que as pessoas são um ioiô que vai e volta conforme a nossa disposição bipolar.
JORNAL I
-
Edição de
Amigo é coisa séria
Muito daquilo que é o egoísmo nas relações de hoje em dia reflete-se também na amizade. Ninguém está disposto a abdicar de nada e achamos que as pessoas são um ioiô que vai e volta conforme a nossa disposição bipolar.
Gosto desde pequeno de separar os amigos dos conhecidos e de não chamar amigo a toda a gente. Não para desconsiderar os que são só conhecidos nem para ter comportamentos diferentes, nada disso; faço-o porque valorizo muito as pessoas que são minhas amigas a sério. E não defino a amizade pelo espaço temporal que ela me ocupa. Tenho amigos que estão longe, tenho quem se tenha afastado e tenha voltado, e tenho conhecidos com quem estou todos os dias.
É por isso que a amizade tem para mim muito daquilo que é o amor também. Exige paciência, respeito, tempo a fazer coisas de que gostamos menos por alguém, honestidade e fidelidade, carinho e atenção. E, da mesma forma que no amor, temos pessoas que julgávamos amar mas era só uma paixão momentânea, aquelas que muitas vezes entram de uma forma repentina e arrebatadora na nossa vida, passamos todo o tempo com elas e tornam-se imensamente próximas de nós, e depois desaparecem da mesma forma passado uns tempos.
Existem ainda os one-night stands ou casos de uma noite, quando numa festa ou num encontro nos identificamos de tal forma com alguém que passamos a noite/dia todo a falar com ela mas depois nunca mais a vemos. Há também as amizades coloridas, quando se é amigo mas também amante, e há ainda aqueles que confundem tudo e não sabem distinguir amizade de paixão, de amor ou de outra coisa qualquer.
Muito daquilo que é o egoísmo nas relações de hoje em dia reflete-se também na amizade. Ninguém está disposto a abdicar de nada e achamos que as pessoas são um ioiô que vai e volta conforme a nossa disposição bipolar. Outros, os abusadores, acham sempre que um amigo, se é amigo, tem de estar disposto a tudo, tem de aturar qualquer coisa e estar sempre ali para limpar a porcaria que fazemos, esquecendo-se de que “quando um não quer, dois não dançam”. Há os que, por falta de confiança, usam o dinheiro para ter “amigos” à volta e também há os amigos que só estão lá para os bons momentos. Também existem aqueles que concordam com tudo e nunca nos dizem que não, mesmo que esteja tudo mal, só para nos agradar, e os que nos dizem sempre que não talvez por sentimento paternal, junto com um pouco de inveja também.
Ainda assim há muitos, felizmente, para quem ser amigo é muito importante, pessoas que esquecem um pouco o orgulho e pedem desculpa quando erram com a mesma facilidade com que conseguem perdoar quando algum amigo erra e pede desculpa. Porque isto da amizade não é uma coisa fácil nem simples. É por isso que, por muitas voltas que possamos dar, ninguém tem na realidade, nem de perto nem de longe, os “amigos” na vida real que tem no Facebook. Exige sacrifício e sangue-frio, altruísmo e cumplicidade. Exige sobretudo a capacidade de não desistirmos à primeira – por vezes, nem à segunda nem à terceira –, estarmos ali, ficarmos ali, às vezes, quando mais ninguém fica. É por isso que frequentemente é a própria vida, as suas circunstâncias e idiossincrasias que acabam por nos escolher as amizades, por muito que teimemos em enganar-nos a nós próprios. Porque os que não são e que nós sabemos que não são acabam por se afastar de nós. Porque os que são estão sempre ali que até irrita, e quando não estão ligam, e quando não ligam estão, e mesmo quando não podem estar, nós sentimos que estão. Porque isto dá trabalho. Porque ser amigo é coisa séria.
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