Uma oportunidade para a Europa num mundo de previsível imprevisibilidade


Uma oportunidade para a Europa num mundo de previsível imprevisibilidade. Entre 2008 e 2014, os Estados da Europa ocidental reduziram os seus orçamentos para a defesa em 12%. Agora, com a imprevisibilidade de Trump e o arco de crise que cerca a União Europeia, o debate sobre uma política comum de defesa europeia foi reaberto.


Durante décadas não se vislumbrou na Europa uma defesa europeia que passasse da retórica. Com algumas excepções não existia vontade política de combater quando necessário, nem de investir num dispositivo militar credível. Na ausência de uma visão estratégica partilhada, apesar dos instrumentos consagrados no Tratado de Lisboa, a inércia prevaleceu.

Este estado letárgico foi abalado por mudanças significativas no contexto internacional e em definitivo com a chegada de um novo inquilino à Casa Branca.

Enredados nas fraturas internas – entre o “centro” e as “periferias”, seja entre estados membros seja entre alguns destes e as instituições europeias – os europeus deram subitamente conta que os americanos falavam a sério quando diziam que a Europa teria que contribuir mais para a sua segurança e assumir a sua responsabilidade pela segurança regional.

Nada de novo no fundo. Com a Líbia, a Síria, o Mali e a reação à “Primavera Árabe” o ex-presidente Barak Obama já tinha sinalizado o retraimento norte-americano. A intervenção no Iraque confrontou a principal potência mundial com os limites do seu poder e impôs um recuo estratégico no fim de um longo ciclo de intervenções externas. No novo xadrez geopolítico, a Europa e o Médio Oriente foram substituídos na hierarquia das prioridades regionais pela Ásia.

Paradoxalmente, à medida que aumentava a instabilidade estratégica na sua vizinhança próxima e alargada, acentuou-se na Europa a tendência de desmilitarização. Entre 2008 e 2014 os Estados da Europa Ocidental reduziram aproximadamente 12% dos seus orçamentos de defesa, tendo as verbas atribuídas decrescido de 274 milhões de euros para 240 milhões de euros.

A imprevisibilidade de Donald Trump e o arco de crise que cerca a União Europeia – gerir a relação com a Rússia representa um desafio crucial, pense-se na Ucrânia, na anexação ilegal da Crimeia, na pressão sobre os países bálticos, na concentração de meios militares no Ártico, a que acresce destruição da Líbia que prolongou o arco de crise até ao Sahel, onde a aliança entre a Al-Qaeda no Magreb Islâmico e os separatistas locais levou à intervenção militar da França no Mali –, que tem potencial para transformar os equilíbrios regionais, reabriu, uma vez mais, o debate sobre uma política comum de defesa europeia e foram dados importantes passos.

“Assistimos à formação de uma nova arquitetura de poder e os os europeus têm a oportunidade de assumir um importante papel nela” – a análise é de Werner Weidenfeld, que durante os governos de Helmut Kohl coordenou as relações bilaterais germano-americanas.

No Conselho Europeu de Dezembro os líderes europeus reafirmaram o seu empenho na implementação da Estratégia para a Política Externa e de Segurança da União Europeia Global e aprovaram o plano que a visa operacionalizar. Este contempla entre outros aspetos: uma revisão anual coordenada das despesas com a Defesa, uma melhor resposta rápida da União através dos battlegroup – que existem desde 2005 mas nunca foram estiveram no terreno –, e uma nova cooperação entre os Estados-Membros que desejem assumir maiores compromissos em matéria de defesa e de segurança.

É verdade que o diabo se esconde nos detalhes – e não deixa de ser irónico constatar que o novo documento estratégico surge no momento em que UE se confronta com a saída da potência global mais relevante em termos militares – mas também é verdade que a defesa parece ser único grande projecto europeu a reunir consenso entre países do sul e do norte da Europa. Não é pouco.

Escreve à segunda-feira


Uma oportunidade para a Europa num mundo de previsível imprevisibilidade


Uma oportunidade para a Europa num mundo de previsível imprevisibilidade. Entre 2008 e 2014, os Estados da Europa ocidental reduziram os seus orçamentos para a defesa em 12%. Agora, com a imprevisibilidade de Trump e o arco de crise que cerca a União Europeia, o debate sobre uma política comum de defesa europeia foi reaberto.


Durante décadas não se vislumbrou na Europa uma defesa europeia que passasse da retórica. Com algumas excepções não existia vontade política de combater quando necessário, nem de investir num dispositivo militar credível. Na ausência de uma visão estratégica partilhada, apesar dos instrumentos consagrados no Tratado de Lisboa, a inércia prevaleceu.

Este estado letárgico foi abalado por mudanças significativas no contexto internacional e em definitivo com a chegada de um novo inquilino à Casa Branca.

Enredados nas fraturas internas – entre o “centro” e as “periferias”, seja entre estados membros seja entre alguns destes e as instituições europeias – os europeus deram subitamente conta que os americanos falavam a sério quando diziam que a Europa teria que contribuir mais para a sua segurança e assumir a sua responsabilidade pela segurança regional.

Nada de novo no fundo. Com a Líbia, a Síria, o Mali e a reação à “Primavera Árabe” o ex-presidente Barak Obama já tinha sinalizado o retraimento norte-americano. A intervenção no Iraque confrontou a principal potência mundial com os limites do seu poder e impôs um recuo estratégico no fim de um longo ciclo de intervenções externas. No novo xadrez geopolítico, a Europa e o Médio Oriente foram substituídos na hierarquia das prioridades regionais pela Ásia.

Paradoxalmente, à medida que aumentava a instabilidade estratégica na sua vizinhança próxima e alargada, acentuou-se na Europa a tendência de desmilitarização. Entre 2008 e 2014 os Estados da Europa Ocidental reduziram aproximadamente 12% dos seus orçamentos de defesa, tendo as verbas atribuídas decrescido de 274 milhões de euros para 240 milhões de euros.

A imprevisibilidade de Donald Trump e o arco de crise que cerca a União Europeia – gerir a relação com a Rússia representa um desafio crucial, pense-se na Ucrânia, na anexação ilegal da Crimeia, na pressão sobre os países bálticos, na concentração de meios militares no Ártico, a que acresce destruição da Líbia que prolongou o arco de crise até ao Sahel, onde a aliança entre a Al-Qaeda no Magreb Islâmico e os separatistas locais levou à intervenção militar da França no Mali –, que tem potencial para transformar os equilíbrios regionais, reabriu, uma vez mais, o debate sobre uma política comum de defesa europeia e foram dados importantes passos.

“Assistimos à formação de uma nova arquitetura de poder e os os europeus têm a oportunidade de assumir um importante papel nela” – a análise é de Werner Weidenfeld, que durante os governos de Helmut Kohl coordenou as relações bilaterais germano-americanas.

No Conselho Europeu de Dezembro os líderes europeus reafirmaram o seu empenho na implementação da Estratégia para a Política Externa e de Segurança da União Europeia Global e aprovaram o plano que a visa operacionalizar. Este contempla entre outros aspetos: uma revisão anual coordenada das despesas com a Defesa, uma melhor resposta rápida da União através dos battlegroup – que existem desde 2005 mas nunca foram estiveram no terreno –, e uma nova cooperação entre os Estados-Membros que desejem assumir maiores compromissos em matéria de defesa e de segurança.

É verdade que o diabo se esconde nos detalhes – e não deixa de ser irónico constatar que o novo documento estratégico surge no momento em que UE se confronta com a saída da potência global mais relevante em termos militares – mas também é verdade que a defesa parece ser único grande projecto europeu a reunir consenso entre países do sul e do norte da Europa. Não é pouco.

Escreve à segunda-feira