“Muitas vezes, a humilhação é mais violenta do que a agressão.”
João Sebastião
Na passada sexta-feira fui assistir, na sede distrital do PSD em Lisboa, a uma sessão muito interessante sobre a política no feminino, uma sessão que contou com a sala cheia, sobretudo com mulheres de várias idades e condições sociais, com um diversificado leque de oradoras, com experiências pessoais, profissionais e autárquicas díspares, moderadas por um presidente de junta de freguesia de Lisboa onde a paridade ultrapassa a exigida por lei – e com provas dadas e resultados positivos na sua vida autárquica.
Uma sessão que valeu a pena e que deverá ser replicada pelo país, sobretudo fora dos principais centros urbanos. Já no seu término, estava previsto que o encerramento fosse feito por um presidente de câmara do PSD que, em simultâneo, é atualmente neste partido o responsável pela escolha dos candidatos autárquicos a nível nacional, nas eleições deste ano. Na sua intervenção, dedicou a esmagadora maioria do seu tempo, despropositadamente e em jeito de membro recente de claque partidária siamesa das claques ultra dos clubes de futebol, como se tivesse nas mãos fogo e explosivos, a promover ajustes de contas, perseguições, divisionismos, calúnias, infâmias, mentiras contra companheiros e companheiras de partido.
De onde se destacaram ataques muito feios e baixos a ex-líderes do PSD, com referências demagógicas e falsas, utilizando até expressões do tipo “terrorismo”, “querem destruir o partido”, “são casos de polícia”, “são minoritários”, “estão ao serviço de adversários do partido”, etc., e chegando a afirmar, na altura própria, “vamos tratar deles”, “dizendo os seus nomes”, etc., etc. Com exceção de uns aplausos esporádicos durante esta intervenção de fação, os olhares na sala foram-se cruzando com um misto de incredulidade e de preocupação. Após o seu término, várias das pessoas presentes interrogaram-se e comentaram. Constatações simples e certeiras. É que a sessão tinha corrido bem. Não fora organizada para exaltações do tipo seita partidária. De cariz autoexplicativa de erros cometidos.
De incoerência. Muito menos de estímulo à vingança, ao ajuste de contas, à perseguição, à ameaça e à ode da mentira e da desculpa aparelhística. Como dizia no final da sessão uma militante experiente, o mais curioso é que tudo isto chegou pela voz de uma pessoa que devia, neste particular, estar calada. Porque, de entre muitas coisas no seu comportamento político-partidário, fez a vida negra à ex-líder Manuela Ferreira Leite na pré-campanha eleitoral de 2009, com declarações permanentes nas televisões e afins contra o seu próprio partido, e que, até recentemente, com o governo de Pedro Passos Coelho, muitas vezes zurziu forte e feio no governo PSD/CDS e, em particular, em vários dos seus membros, como o atual comissário europeu e ex–secretário de Estado Carlos Moedas.
Nas despedidas, e já na rua, a preocupação foi visível em várias pessoas. Com interrogações do tipo “será que Passos Coelho é que manda fazer estas coisas?”, “então é esta pessoa que está a preparar as autárquicas?”, “pondo gasolina no forno” “é assim que se promove a união?”, “não foi para isto que Sá Carneiro fez o PSD”, “Passos Coelho, com gente deste tipo, a fazer isto, está muito bem acompanhado…”
Para além de outros comentários. Eu, que estive presente e fui dos primeiros presidentes de distritais do PSD a ser eleito em eleições diretas, e que, mesmo quando fui membro de três governos do país, continuei a ser dirigente das bases, e que atualmente continuo a ser vice-presidente de uma comissão política de secção e presidente da assembleia distrital do meu distrito, e diretor do jornal distrital do PSD, confesso que confirmei com os meus olhos e com os meus ouvidos, serenamente, que afinal são verdadeiras as informações que a medo são referidas sobre o que se está a passar no PSD.
Com as incoerências de alguns PSD, do género de promoverem a divisão recorrendo a conversas e incoerências muito perigosas. Tomando muitos por parvos. Cavando clivagens. Entre os bons e os maus. As bases boas e as bases más. Onde nuns sítios decidem as boas, e noutros as más. Dei comigo, aliás, a recuar no tempo e a pensar que, com as minhas equipas e enquanto presidente da minha distrital, ganhámos 12 municípios em 16 para o PSD. E que à época as orientações principais eram o bom senso, a descrispação interna e a procura da unidade. Bem sabemos que o pior que acontece na vida, também política, é algumas pessoas se esquecerem de onde vieram, como vieram, onde estão e, sobretudo, por muitas voltas que deem, o que fizeram, como o fizeram e o que disseram no passado. É que o seu passado, em alguns casos, por muito que não tenham memória, irá acompanhá–los permanentemente É pena que assim seja. Porque o PSD e o país não o merecem. Este caminho de ameaça, de perseguição, de ajuste de contas, a não ser interrompido, vai ter um mau fim.
E, de facto, quem no passado dividiu e prejudicou devia estar calado. Para quem, como vários de nós, tem esse clipping, isso é muito fácil de recordar. Mas se o tivemos de fazer, será muito mau sinal. Porque o país precisa de um PSD unido de norte a sul, mobilizador, sem incoerências e, acima de tudo, portador de mensagens positivas alicerçadas num projeto virado para o futuro.
Escreve à segunda-feira