Os senadores não estão contentes, mas as hostes sociais-democratas estão mais mobilizadas do que nunca em torno de Pedro Passos Coelho. A estratégia de expor as fragilidades da solução de governo, recusando ser “muleta” do PS, está a provocar a crítica de alguns barões, mas a ajudar o líder do PSD a reafirmar-se.
O sentimento geral é “voltámos à política!”. Depois de meses a tentar encontrar o estilo certo na oposição e acossado por putativos candidatos a líderes, Passos Coelho conseguiu reunir o povo social-democrata à sua volta e a sensação é a de que está para durar na liderança.
Além do ânimo que se sente na bancada social-democrata no parlamento, há outros sinais que mostram como Pedro Passos Coelho parece ter dado a volta à ideia de que estaria desgastado, fragilizado e a prazo.
O elogio dos challengers
Um deles é a forma como três dos potenciais sucessores de Passos vieram a público aplaudir a estratégia do líder. Paulo Rangel, Pedro Santana Lopes e José Pedro Aguiar–Branco elogiaram a opção de Passos Coelho.
“Pela primeira vez, de modo significativo, resolveu fazer a separação das águas e encontrou um ponto para criticar o governo e a sua maioria”, elogiou Santana na SIC Notícias.
“Ao Bloco e ao PCP dá-se a folga da tolerância e o desafogo da irresponsabilidade; ao PS dá-se a imunidade da indiferença e o privilégio de só ser obrigado a negociar à esquerda. Já para o PSD, vá lá saber-se porquê, sobra o grande e canoro pronunciamento ético do ‘come e cala’. Já só nos faltava esta: concertação social, sim; concertação política, não!”, reagiu Rangel, numa defesa clara de Passos Coelho que foi assumida também por Aguiar-Branco.
“Não foi o PSD que andou a incentivar o BE e o PCP a abandonar o apoio ao governo. Não foi o PSD que decretou, unilateralmente, o aumento do salário mínimo pago com as pensões de todos os portugueses. É António Costa e os partidos que o sustentam que devem uma explicação ao país. Não é Pedro Passos Coelho”, escreveu ontem no Facebook Aguiar-Branco.
O apoio de Santana, Rangel e Aguiar-Branco a uma das opções mais arrojadas de Passos Coelho desde que chegou à oposição é um sinal de que aqueles que se perfilavam como potenciais challengers sentem que o partido está neste momento unido em torno do líder.
A reaproximação do vice
Outro indício deste novo fôlego de Passos Coelho na liderança social- -democrata é a reaproximação de Marco António Costa. O vice–presidente nunca chegou a estar completamente afastado do líder, mas era notório o resguardo pelo qual optava há meses.
Nas últimas semanas, Marco António voltou a estar na frente do combate político, apesar de ter ficado com o papel ingrato de ter sido aquele que, na reação inicial à TSU, não contestou a medida, limitando-se a pedir a extensão do desconto oferecido pelo governo às IPSS e às Misericórdias.
Aquele que é visto como um dos kingmakers do partido não hesitou em vir dar a cara pela estratégia de viabilização da iniciativa do BE e do PCP para travar o desconto na TSU. E tem passado os últimos dias a escrever artigos de opinião, a fazer declarações e até a pedir a palavra no último debate quinzenal com o primeiro-ministro, para que não restem dúvidas de que está ao lado de Passos Coelho.
Ronda pelas bases
O anúncio de que vai explorar as incongruências da solução de governo foi essencial para animar as hostes de um partido que ainda não digeriu bem o facto de ter ganho as eleições sem ter ido para o poder. Mas essa não é a única explicação para a forma como Passos Coelho retomou as rédeas do PSD.
O presidente não descurou o partido. Nos últimos meses tem corrido as concelhias, muitas vezes em eventos à margem da agenda oficial que é tornada pública. Esses encontros são valorizados pelas bases e neles Passos tem sentido de perto o apoio dos sociais-democratas e garantido que todas as distritais estão consigo.
A forma como chamou a si o arrastado processo de decisão sobre as autárquicas em Lisboa, pondo fim à novela em torno de uma possível coligação com o CDS, foi também importante. Foi uma forma de deixar claro que continua a controlar a situação e que a sua palavra é a única que é decisiva.
O balde de água fria que Rui Rio lançou sobre os seus apoiantes com as declarações ao “Expresso” sobre não querer um congresso também ajudou.
Para já, o sentimento geral é o de que será Passos a ir a votos com António Costa quando houver eleições. E nem o desaire que se antevê nas autárquicas parece beliscar essa sensação.
Internamente, Passos Coelho tem a situação controlada. Resta saber que mossa fará o descontentamento do Presidente da República, dos patrões, da UGT e dos TSD no eleitorado do centro que gostaria de ver preservada a concertação social.