Maldito Soares!


Não faço, por regra, juízos de valor, mas sei reconhecer uma besta. Tenho as minhas opiniões e, claro, defendo-as ou partilho-as.


Não faço, por regra, juízos de valor, mas sei reconhecer uma besta. Tenho as minhas opiniões e, claro, defendo-as ou partilho-as. E sejam elas alinhadas ou divergentes com as da maioria, uma coisa é certa: posso partilhá-las e expressá-las livremente. Sim, livremente, sem censura, sem perseguição ou – worst case scenario – prisão. A isto chama–se liberdade de expressão. 

E é fantástico ter este direito, devia até ser uma obrigação, pois há por aí muita gente que não o faz por conveniência ou por carneirismo. 

Saí de Lisboa rumo a Moçambique no dia seguinte à morte de Mário Soares, mas ainda tive o prazer de ler (nas redes sociais) as ofensas e os insultos a ele dirigidos. Confesso que me deu gozo, deu-me a confirmação (se dúvidas houvessem) de que efetivamente temos liberdade. Foi a prova de que podemos dizer tudo ou quase tudo o que nos apraz sem que com isso sejamos perseguidos e, embora na forma mais pobre, é uma homenagem que se presta a Mário Soares insultá-lo!

A liberdade de expressão permite-nos conhecer as pessoas e assim delinear as nossas fronteiras de relacionamento. Uma besta é uma besta mas, se não expressasse a sua opinião livremente, seria apenas uma besta encapotada e correríamos o risco de nos relacionarmos com algumas bestas. Assim não. As bestas falam e logo se anunciam, e nós temos a liberdade de as ignorar e afastar para bem longe do nosso círculo de amizades.

Acho que é por isto que algumas bestas decidiram insultar Soares depois da sua morte. Puderam finalmente libertar o ódio que por ele nutrem. É o que devem pensar e sentir para com o homem que as ajudou a expor a sua bestialidade. Ironicamente, e mesmo que raivosas e ressabiadas, acabaram por homenagear Soares.

Maldito Soares, devem pensar! Se não fosse por ele, poderiam continuar a ser umas bestas sem que ninguém desse por isso. Temos de as compreender e aceitar a sua revolta – afinal, quem é que gosta de ser uma besta?

Inevitavelmente, por aqui, em Moçambique, falou-se do tema. A importância que aqui dão a Soares em nada se relaciona com a que dão as bestas que moram no nosso país.

Aqui reconhecem-lhe o mérito de ter combatido pela liberdade. De lhes ter proporcionado, a eles também, essa mesma liberdade, bem mais efetiva, diga-se de passagem. Mesmo para uma besta, o mínimo que se exige é que, antes de opinar ou insultar, entendesse quem foi Soares e o papel que teve na construção da liberdade e da democracia do nosso país.

Mas lá está, as bestas que o disseram odeiam-no. Maldito Soares, que nem no leito da sua morte os deixou descansados. Uma besta não se controla, não contém a verborreia que produz. E a morte de Soares veio expor todas as bestas que ainda, por aí, tentavam encapotar-se.

Maldito! Maldito! Bradam aos seus as bestas do nosso Portugal!

Eu pouco mais do que este texto (e outros que aqui já publiquei) posso dar como tributo para agradecer e homenagear Soares. 

Muito obrigado, Mário Soares! Obrigado por nunca teres desistido, obrigado por nunca teres voltado a cara à luta e, sobretudo, obrigado por nos ajudares a conhecer as muitas bestas que continuavam na clandestinidade.

Até sempre!

Escreve à quinta-feira


Maldito Soares!


Não faço, por regra, juízos de valor, mas sei reconhecer uma besta. Tenho as minhas opiniões e, claro, defendo-as ou partilho-as.


Não faço, por regra, juízos de valor, mas sei reconhecer uma besta. Tenho as minhas opiniões e, claro, defendo-as ou partilho-as. E sejam elas alinhadas ou divergentes com as da maioria, uma coisa é certa: posso partilhá-las e expressá-las livremente. Sim, livremente, sem censura, sem perseguição ou – worst case scenario – prisão. A isto chama–se liberdade de expressão. 

E é fantástico ter este direito, devia até ser uma obrigação, pois há por aí muita gente que não o faz por conveniência ou por carneirismo. 

Saí de Lisboa rumo a Moçambique no dia seguinte à morte de Mário Soares, mas ainda tive o prazer de ler (nas redes sociais) as ofensas e os insultos a ele dirigidos. Confesso que me deu gozo, deu-me a confirmação (se dúvidas houvessem) de que efetivamente temos liberdade. Foi a prova de que podemos dizer tudo ou quase tudo o que nos apraz sem que com isso sejamos perseguidos e, embora na forma mais pobre, é uma homenagem que se presta a Mário Soares insultá-lo!

A liberdade de expressão permite-nos conhecer as pessoas e assim delinear as nossas fronteiras de relacionamento. Uma besta é uma besta mas, se não expressasse a sua opinião livremente, seria apenas uma besta encapotada e correríamos o risco de nos relacionarmos com algumas bestas. Assim não. As bestas falam e logo se anunciam, e nós temos a liberdade de as ignorar e afastar para bem longe do nosso círculo de amizades.

Acho que é por isto que algumas bestas decidiram insultar Soares depois da sua morte. Puderam finalmente libertar o ódio que por ele nutrem. É o que devem pensar e sentir para com o homem que as ajudou a expor a sua bestialidade. Ironicamente, e mesmo que raivosas e ressabiadas, acabaram por homenagear Soares.

Maldito Soares, devem pensar! Se não fosse por ele, poderiam continuar a ser umas bestas sem que ninguém desse por isso. Temos de as compreender e aceitar a sua revolta – afinal, quem é que gosta de ser uma besta?

Inevitavelmente, por aqui, em Moçambique, falou-se do tema. A importância que aqui dão a Soares em nada se relaciona com a que dão as bestas que moram no nosso país.

Aqui reconhecem-lhe o mérito de ter combatido pela liberdade. De lhes ter proporcionado, a eles também, essa mesma liberdade, bem mais efetiva, diga-se de passagem. Mesmo para uma besta, o mínimo que se exige é que, antes de opinar ou insultar, entendesse quem foi Soares e o papel que teve na construção da liberdade e da democracia do nosso país.

Mas lá está, as bestas que o disseram odeiam-no. Maldito Soares, que nem no leito da sua morte os deixou descansados. Uma besta não se controla, não contém a verborreia que produz. E a morte de Soares veio expor todas as bestas que ainda, por aí, tentavam encapotar-se.

Maldito! Maldito! Bradam aos seus as bestas do nosso Portugal!

Eu pouco mais do que este texto (e outros que aqui já publiquei) posso dar como tributo para agradecer e homenagear Soares. 

Muito obrigado, Mário Soares! Obrigado por nunca teres desistido, obrigado por nunca teres voltado a cara à luta e, sobretudo, obrigado por nos ajudares a conhecer as muitas bestas que continuavam na clandestinidade.

Até sempre!

Escreve à quinta-feira