A mulher que beija a bandeira


Mário Soares sabia bem a diferença entre homens e ratos. Nunca se deixou enganar sabia bem quem eram uns e outros


Como já aqui escreveu, Nuno Ramos de Almeida, tenho um desprezo absoluto, por pessoas que a pretexto de depoimento sobre outras aproveitam, na verdade e com contida emoção, o tempo para falar delas próprias.

Nestes dias, de justa homenagem a Mário Soares, são em número expressivo os que “generosamente” oferecem à estampa as estórias de “intima convivência”, testemunhos únicos, ou as “reveladoras confidencias”, empurrando-se em frenesim numa insaciável fogueira de vaidades. 

Sinistras e hipócritas carpideiras, penetras de velórios, escrevinhadores de imorredouras crónicas de si mesmo. Colados ao cortejo, afilam a artificial lágrima para fotografo. Rapinam dor alheia para mais tarde traficar.

Não contam. Generosos e genuínos, simples e leais, foram os milhares de pessoas que prestaram homenagem emocionada a Mário Soares. 

Homenagem ao seu Presidente, ao seu camarada, ao resistente, ao que era como eles e gostava deles. De pessoas, de comer, divertir-se, rir, e conversar com elas.

Mário Soares sabia que podia contar com eles.  Com o povo chão. 

Mário Soares sabia bem a diferença entre homens e ratos. Nunca se deixou enganar sabia bem quem eram uns e outros. A família, a Isabel e o João também.

Quanto aos saudosistas doentes, aos que se alimentam de ódio, aos fascistas, e imbecis de lâmina afiada na intolerância, para eles, não há maior castigo, nem fracasso que se alegrarem pela morte do homem que não puderam vencer na vida. 

Mário Soares, foi um português excecional, diverso, plural, exímio avaliador das circunstancias e hábil leitor do género humano. Um homem dialético, culto na sua abordagem do fator politico. 

Como toda a gente tenho opinião sobre o papel dele na nossa história.

Fui seu adversário ideológico e faço uma avaliação critica de muita da sua intervenção politica. 

Entre 2005 e 2012, tive o privilégio de conviver ativa e regularmente com Mário Soares. Aprendi muito, conheci-o melhor. Observei-o em ação, a refletir, a seduzir, a saborear a vida. Para mim foi uma oportunidade única, para ele terei sido útil nas minhas competências. No fim permaneceu a estima.

Só um homem da dimensão politica e cultural de Mário Soares, alguém que viveu mil vidas e conviveu com outras tantas personalidades marcantes da História humana, só um homem que foi amado por uma mulher com a grandeza de Maria Barroso, tantas vezes derrotado e tantas vezes exaltado, só ele é que era o único conhecedor da complexidade intima do seu ser.

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, inteira, diz ao vento que passa:

“O olhar de uma filha é sempre um olhar embaciado pela emoção e pela ternura”

“O pai era para o João e para mim o nosso o nosso herói

Nunca nenhum de nós, seus filhos, lhe faltou com o amor incondicional”

“Aprendemos essa lição de vida da nossa mãe. Companheira que foi exemplar de 66 anos de vida comum e paixão total.

E é justo dizer isso aqui, nesta hora de despedida, que o nosso pai nunca teria feito o que fez ou chegado onde chegou sem a presença tranquila, serena e doce, mas firme, dessa mulher admirável que foi a sua. Tinham a mesma dimensão e esse é o nosso maior orgulho”

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, respira o vento que lhe traz o seu cheiro e diz:

“Posso garantir que todos nós seus filhos e netos honraremos a sua memória e manteremos viva a sua imagem, o seu legado e a sua Fundação”

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, com os olhos deslumbrados de água e centelhas de saudade, diz:

“Não sei como vamos viver sem si, sem a sua presença”

Vamos ter que ser. E não esquecer, que a justa homenagem a Mário Soares, foi também a homenagem à Liberdade, e a todos os que lutaram, resistiram e morreram por ela. 

Recordar que a democracia está ameaçada quando a damos como certa. E que como ele dizia, só é vencido quem deixa de lutar. 

Portugal é essa bandeira que beijas. Somos todos, sabendo que não se chora na presença dos esbirros. Erguemo-nos. Reconfortados a imagina-lo a ver o mar, e a saborear a vida. A sorrir. 

“trechos do texto de Isabel Soares na cerimónia solene de despedida”

 

Consultor de comunicação

Escreve às quintas-feiras


A mulher que beija a bandeira


Mário Soares sabia bem a diferença entre homens e ratos. Nunca se deixou enganar sabia bem quem eram uns e outros


Como já aqui escreveu, Nuno Ramos de Almeida, tenho um desprezo absoluto, por pessoas que a pretexto de depoimento sobre outras aproveitam, na verdade e com contida emoção, o tempo para falar delas próprias.

Nestes dias, de justa homenagem a Mário Soares, são em número expressivo os que “generosamente” oferecem à estampa as estórias de “intima convivência”, testemunhos únicos, ou as “reveladoras confidencias”, empurrando-se em frenesim numa insaciável fogueira de vaidades. 

Sinistras e hipócritas carpideiras, penetras de velórios, escrevinhadores de imorredouras crónicas de si mesmo. Colados ao cortejo, afilam a artificial lágrima para fotografo. Rapinam dor alheia para mais tarde traficar.

Não contam. Generosos e genuínos, simples e leais, foram os milhares de pessoas que prestaram homenagem emocionada a Mário Soares. 

Homenagem ao seu Presidente, ao seu camarada, ao resistente, ao que era como eles e gostava deles. De pessoas, de comer, divertir-se, rir, e conversar com elas.

Mário Soares sabia que podia contar com eles.  Com o povo chão. 

Mário Soares sabia bem a diferença entre homens e ratos. Nunca se deixou enganar sabia bem quem eram uns e outros. A família, a Isabel e o João também.

Quanto aos saudosistas doentes, aos que se alimentam de ódio, aos fascistas, e imbecis de lâmina afiada na intolerância, para eles, não há maior castigo, nem fracasso que se alegrarem pela morte do homem que não puderam vencer na vida. 

Mário Soares, foi um português excecional, diverso, plural, exímio avaliador das circunstancias e hábil leitor do género humano. Um homem dialético, culto na sua abordagem do fator politico. 

Como toda a gente tenho opinião sobre o papel dele na nossa história.

Fui seu adversário ideológico e faço uma avaliação critica de muita da sua intervenção politica. 

Entre 2005 e 2012, tive o privilégio de conviver ativa e regularmente com Mário Soares. Aprendi muito, conheci-o melhor. Observei-o em ação, a refletir, a seduzir, a saborear a vida. Para mim foi uma oportunidade única, para ele terei sido útil nas minhas competências. No fim permaneceu a estima.

Só um homem da dimensão politica e cultural de Mário Soares, alguém que viveu mil vidas e conviveu com outras tantas personalidades marcantes da História humana, só um homem que foi amado por uma mulher com a grandeza de Maria Barroso, tantas vezes derrotado e tantas vezes exaltado, só ele é que era o único conhecedor da complexidade intima do seu ser.

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, inteira, diz ao vento que passa:

“O olhar de uma filha é sempre um olhar embaciado pela emoção e pela ternura”

“O pai era para o João e para mim o nosso o nosso herói

Nunca nenhum de nós, seus filhos, lhe faltou com o amor incondicional”

“Aprendemos essa lição de vida da nossa mãe. Companheira que foi exemplar de 66 anos de vida comum e paixão total.

E é justo dizer isso aqui, nesta hora de despedida, que o nosso pai nunca teria feito o que fez ou chegado onde chegou sem a presença tranquila, serena e doce, mas firme, dessa mulher admirável que foi a sua. Tinham a mesma dimensão e esse é o nosso maior orgulho”

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, respira o vento que lhe traz o seu cheiro e diz:

“Posso garantir que todos nós seus filhos e netos honraremos a sua memória e manteremos viva a sua imagem, o seu legado e a sua Fundação”

A mulher que beija a bandeira com o irmão ao lado, com os olhos deslumbrados de água e centelhas de saudade, diz:

“Não sei como vamos viver sem si, sem a sua presença”

Vamos ter que ser. E não esquecer, que a justa homenagem a Mário Soares, foi também a homenagem à Liberdade, e a todos os que lutaram, resistiram e morreram por ela. 

Recordar que a democracia está ameaçada quando a damos como certa. E que como ele dizia, só é vencido quem deixa de lutar. 

Portugal é essa bandeira que beijas. Somos todos, sabendo que não se chora na presença dos esbirros. Erguemo-nos. Reconfortados a imagina-lo a ver o mar, e a saborear a vida. A sorrir. 

“trechos do texto de Isabel Soares na cerimónia solene de despedida”

 

Consultor de comunicação

Escreve às quintas-feiras